segunda-feira, 27 de março de 2017

DEIXEMOS DE “COBARDIAS”... A REALIDADE DIZ QUE OS VIVOS PRECISAM MAIS DE ATENÇÃO...

Nos últimos dias tem sido assim... aborto p’ra aí... aborto p’ra acolá..., todo mundo quer ter uma opinião sobre o assunto. Com conhecimentos profundos ou não, com olhos para realidade profunda ou não, o que interessa mesmo é estar na moda..., debater a possibilidade ou não da criminalização do aborto e revelar-se seres modernos, que se identificam com as liberdades, direitos humanos e cidadania activa.
Nada contra! Se há tempo para isso, então que assim seja!
O grande problema consiste no facto de se ter aberto uma discussão profunda sobre a VIDA FUTURA, embora se procure transfigurá-lo num debate sobre a LIBERDADE das mulheres de serem “mais mulheres”... E deixarmos de prestar atenção aos SOBREVIVENTES DO PRESENTE.
Para que sejamos justos, com o “elevado” sentimento de cidadania e respeito pelos direitos humanos que temos demonstrado, antes de discutirmos sobre o futuro, falemos do presente, falemos sobre a luta diária, pintada de peripécias e sevícias, a que estão sujeitos os seres (SOBRE)VIVENTES deste país, para se puderem manter vivos..
Falemos do hoje, porque o amanhã dele depende, falemos dos “ABORTOS DA VIDA” dos milhares que vão ocorrendo todos os dias. Falemos, como é óbvio, da falta de garantias mínimas para a dignidade da pessoa humana a que os seres (sobre)viventes desta Angola, vivenciam impávidos e serenamente ao serem “abortados” pela sociedade.
Todos os dias, sem dó nem piedade, abortamos quando:
-       mulheres e crianças morrem nas maternidades e pediatrias por falta de assistência mínima médica e medicamentosa, alimentando estatísticas arrasadoras;
-       famílias sobrevivem quase que na indigência, com menos do necessário por falta de emprego fruto de uma clara e assumida má distribuição da renda;
-       as mulheres zungueiras assumem a desgraça da incompetência da administração pública e são atropelas na luta pela sua sobrevivência e a de suas famílias;
-       observamos gente a ter que acordar as 4 horas da manha, fazer grandes percursos a pé, com uma taxa de esforço elevadíssima para obtenção do mínimo, por falta de um transporte público funcional;  
-       o agente público, por falta de impunidade tira proveito do erário público para fins pessoais, prejudicando a colectividade;
Portanto, deixemos de cobardia e, se é senso humano, se é activismo cívico por uma Angola moderna e mais respeitadora dos direitos, se é convicção moral e/ou cristã, então assumamos a luta contra os “ABORTOS DA VIDA”.
Não me venha cá com truques... Se todos os culpados pelos “abortos dessa vida” fossem criminalizados, não haveria juízes suficientes e nem espaço nas “prisões dessa vida” para tanto criminoso.
Os discursos baseados nas victórias do liberalismo e dos direitos humanos são muito lindos e o apelo à moral e à doutrina Cristã ainda mais românticos, não fosse a série de inquietações do dia-a-dia, onde há num grande contraste entre os discursos os actos;
Senão, vejamos, onde ficam o activismo cívico e a moral cristã na hora da falta de transparência, dos desvios orçamentais e abuso do poder? Na hora da má distribuição dos privilégios e da falta de solidariedade? Na hora da condução no trânsito? Na hora da fuga a paternidade? Na hora de prestarmos uma educação sem qualidade às futuras gerações, Etc…
Não nos lembramos de prestar solidariedade aos pobres famintos e as mulheres violadas desta vida; de garantir um psicólogo e prestar assistência à mãe e ao seu bebe, quando são abandonados pelos maridos devido a má formação congénita daquele, salvo nos casos e para efeitos de humilhação nas “portarias das rádios e televisões dessa vida” ou para a auto-promoção e publicidade da esmola dada;
E não nos lembramos hoje por quê?! Porque essas pessoas não fazem parte do objecto propagandístico de quem com a mais pura perfeição e acutilância deseja o poder e concentra a sua atenção exclusiva na imagem dos seus protagonistas.
Não fosse assim, a resistência quase que enlouquecida de se fugir como o diabo da cruz o faz, da atribuição do estatuto de utilidade pública àquelas organizações que promovem os Direitos dos seres humanos desta terra “amaldiçoada pela sua excessiva riqueza”.
Queremos gastar tempo a confiar nas leis, com acções meramente punitivas, queremos embelezar o discurso para dizermos que estamos preocupados com as pessoas. Então porque não tomar decisões tão simples como é a de colocar o pobre e humilde cidadão no centro das nossas atenções?
Portanto, chega de lamentações e partamos para acção, para a busca da justiça social... Sem que se melhore as condições de vida das famílias angolanas hoje, não haverá leis suficientes para proibir e/ou inibir os “abortos da vida”.
Só por isso mesmo, não há, aqui, truques... Antes mesmo de discutirmos a VIDA futura, falemos da SOBREVIVENCIA daqueles que ainda podem sobrerrestar. Abordemos os nossos problemas com a realidade que se impõe, chamemos “as coisas pelos seus nomes”... Antes de punir, elenquemos acções socioeducativas, chamemos especialistas, busquemos soluções difíceis, se for necessário vamos redescobrir o caminho para Índia... mas vamos, desde que seja para vir com a solução certa...
O País merece e nós agradecemos!

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