São
muitas as histórias para “boi dormir”. Muitas delas quase que sem fundamento
nenhum mas fazem a moda pelas nossas bandas. “Os angolanos não gostam de
trabalhar”, “Não temos quadros suficientes”, “Os angolanos são preguiçosos”, “Os
angolanos quando contratados levam mais tempo em óbitos do que no trabalho”,
etc.. Tudo isso faz-se verdade, até observarmos “olhos nos olhos” de quem
profere tais intempéries como que de ladainhas se tratasse.
O
discurso recorrente e que cada vez mais se impõe de que os “angolanos são pouco
dedicados”, para além de muito generalista, faz de uma batata podre a
referência mais absurda da rotulagem da força económica activa do país, mas
também, expõem os fracassos dos sistemas de gestão implantados nos diferentes
sectores do mercado.
Muitos
gestores públicos ou privados esquecem-se de que, tomaram os cargos como que
herança patrimonial, resultante de um iluminismo profético, do qual nem uma
“sessão de descarrego” seguida de um “jejum das causas impossíveis” os arrebata
de tal “apoteose”.
Outros,
concentram tarefas, rodeiam-se de um punhado de gente “bajuladora” e
extremamente incompetente, inibem mentes criativas com ameaças de rescisão
contratual ou mesmo com historietas de feiticismos e, nos momentos mais difíceis
em que as habilidades dos seus confrades precisam-se, qual decepção nunca mais
vista, não há ninguém para os ajudar.
Como resultado,
recitam em voz alta, generalizando tudo e todos, a grande prosa em que
transparece de um lado a “burrice e a preguiça” a morarem, calminhas e serenas,
nas cachimónias de todos os seus colaboradores, e a “inteligência e a
dedicação” feitas parceiras inseparáveis de quem faz a gestão enaltecem, a toda
hora, a “esplanada d’egos”.
Do
outro lado, a existência de leis que regulam a gestão dos recursos humanos,
quer na função pública, quer no sector privado, adaptadas de realidades
completamente adversas a nossa, que marginalizam e criam “chances” para que “os gestores oportunistas” tirem proveitos, que a
última hora, desincentivam a progressão na carreira, a estabilidade no emprego
e, mais grave do que isso, estimulam o desemprego friccional.
Não menos importante, nos últimos anos foi dada maior
atenção ao investimento em capital físico, que na sua essência impulsionaria o
desempenho económico, gerando demanda agregada e alimentando o crescimento da
produtividade, em detrimento do investimento eficiente em
capital humano. Uma ênfase a velha teoria dos países subdesenvolvidos de “pensar
em mobilizar a força muscular bruta, em detrimento da capacidade intelectual”.
No
entanto, é sobejamente reconhecido quer nos ciclos de tomadas de decisão, quer
nos ciclos académicos, que as grandes razões por detrás dos nossos insucessos
políticos, económicos e sociais, decorrem de muitas insuficiências endógenas, da
ausência de uma manipulação mais sustentável do capital humano existente e se
constitui na maior pedra de tropeço quando do mercado nacional se aborda.
Somadas
as consequências, elas se traduzem num conjunto de prejuízos incomensuráveis e,
por isso, nem que juntássemos numa sala os melhores e mais capacitados
economistas pro-desenvolvimentistas para pensar Angola, se não as “eliminarmos
do tutano”, não haverá conhecimento suficientemente e eficaz para fazer de
Angola um país bom para se viver.
O custo
de se contratar em Angola é muito alto, não só pelos constrangimentos legais em
torno das estruturas e tipologias contratuais, mas acima de tudo, pela
fragilidade e grande dificuldade de se encontrar profissionais qualificados com
conhecimentos e habilidades suficientes assentes nos padrões internacionais.
Enquanto
isso, cada vez mais se reconhece, que a riqueza de um país não está nos
recursos materiais que ostenta mas na forma como tira proveito e manipula as
habilidades e conhecimentos da força económica dos seus recursos humanos.
Não é
em vão que a aposta no capital humano, no conhecimento e na tecnologia
apresentam-se como uma “condition sine qua non” da Estratégia Angola 2025 e do
Plano Nacional de Desenvolvimento (PND 2017), instrumentos de gestão do
desenvolvimento do país a médio e longo prazo.
Hoje
por hoje, as pessoas fazem a diferença… importante mesmo é deixarmos de ver o
cidadão angolano apenas como pessoa… ele é um activo económico… ele representa
a plataforma certa na catalisação dos
recursos para o desenvolvimento do país… a utilização das pessoas de
forma inteligente, pressupõe, à partida, fazer delas o baluarte para o
desenvolvimento… não tirar proveito do capital humano jovem desse país é das
piores incompetências a observar.
É
urgente a recapitalização do nosso capital humano… são os eles que fazem os
processos acontecer… é urgente revermos a nossa doente reforma educativa, as
nossas leis trabalhistas, e as nossas políticas de gestão dos recursos humanos
como um todo… sob pena de continuarmos a somar um conjunto de desinteligências
que concorrem cada vez mais para as nossas desgraças... O país merece e nós
agradecemos!
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