Concordando com as diferentes correntes que sugerem estarmos a viver numa sociedade espontânea, onde as coisas acontecem rapidamente, de tal modo imediatas e sem que haja espaços de reflexões antes de qualquer acção concertada, fico com a clara percepção de que, o mundo com as suas politiquices e os seus “pseudos” avanços tecnológicos se tornou cada vez mais veloz, o que por sua vez, capitaliza cada vez mais a variável “tempo”, encurta as distâncias e obriga uma maior perfeição nas escolhas dos caminhos mais rápidos e eficazes, para o alcance dos resultados programados “com custo mínimos”.
Nesta busca acelerada de soluções para a vida,
cumprindo com a máxima de que “desde sempre o homem procurou melhores condições
de vida”, fruto de modas instituídas e o constante cultivo de práticas anti-sociais,
a “síndrome do imediatismo” tem cegado muitas mentes e grupos
sociais, onde a ética, o profissionalismo, a justiça social e o cumprimento do
dever deixaram de fazer parte das suas prioridades.
Claramente, podemos perceber por via de
variadíssimos exemplos, que os exageros na luta e abusos de poder, na
construção arquitectónica de maus hábitos sociais que impedem a possibilidade
do desenvolvimento profissional dos mais próximos, no grau de insensibilidade,
no cultivo de comportamentos invejosos, nos últimos tempos, vão dominando a
vida de muitas mentes insanas, ou seja, os fins que percorrem nem sempre
ponderam os meios a serem utilizados... o mesmo que dizer que os fins corrompem
os meios.
Segundo alguns escritos, “os fins justificam os meios” é uma célebre frase erradamente atribuída a Nicolau
Maquiavel, que significa que qualquer iniciativa é válida quando o objectivo é a conquista de algo teoricamente
importante, ou seja, na tentativa de compreensão da sua obra “O
Príncipe”, sugere-se que Maquiavel indica “que para se manter no poder, o
Príncipe deve desenvolver características tidas como "não éticas",
como a crueldade e hipocrisia”.
A busca pela felicidade desde sempre impôs uma série de conflitos
internos entre o desejo do “Ser” que é manifesto por diferentes sentimentos a
exemplos da “capitalização da personalidade, do cultivo de virtudes
conquistadoras, do ser reconhecido, amado,
elogiado, livre e útil”, etc., desejos esses que quando satisfeitos, o homem
encontra a razão de viver.
Por outro lado concorre, por pressão dos rótulos sociais e das necessidades
humanas vitais, o grande desejo do “Ter” que muitas vezes, dadas as nossas
limitações em contradição com as nossas ambições, a satisfação das nossas
necessidades individuais ficam sujeitas ao princípio económico da lei da
escassez: “recursos escassos para necessidades ilimitadas”.
Não importa o que se deseja – muito dinheiro,
ascensão na carreira profissional, cargos de chefia, bens patrimoniais, relacionamentos,
habilidades ou experiências – conseguir o que se quer depende sempre da taxa de
esforço para obtenção do mínimo. A verdade é que na percepção de muitos
preguiçosos com consciência corrompida, meios inconfessos e um conjunto de
atitudes tenebrosas se constituem num pacote de males para o alcance de tais
fins.
Os exemplos são muitos, basta sairmos pelas ruas
das nossas cidades com particular realce para Luanda, para observarmos um
conjunto de pessoas predispostas sempre a tirar proveito das fraquezas/ingenuidade
dos outros para açambarcar o máximo que pode, “sem dó nem piedade”, dos míseros
rendimentos de outrem. E tudo isso se reflecte no crescente número de burlas,
nas constantes lutas por cargo, na micro corrupção estampada em tudo quanto é
canto dessa cidade, etc., etc..
Daí surgem as grandes questões: O que motiva o agir
entre o Ser e o Ter? Quais são os estímulos e referências? Sem uma resposta certa
para estes questionamentos, a definição das opções favoráveis a seguir para a
conquista da “maior felicidade” passa a ser difícil e quase que impossível de
ser alcançada.
Assim sendo, quando o “Ter” sobrepõe o
“Ser” a vida perde a sua índole e passamos a ser capazes de “vender a alma ao
diabo” onde o carácter, o escrúpulo, a humildade, o respeito e todas outras
virtudes que concorrem para a construção de uma personalidade digna de
convivência desaparecem e os fins passam a justificar os meios.
A
pregação e a prosperidade não associada a experiências humanas, ao sacrifício e
a necessidade da criatividade por exemplo, reflectem o apanágio nos dias de
hoje. Contudo, a vivência por uma “Eudaimonia
com Ética” significa o atingir com disposição do pleno potencial
de realização pessoal, ou seja, segundo Aristóteles, “a busca da eudaimonia
enquanto meta da vida humana, tem como principal motivo o exercício da felicidade
em tudo quanto fazemos”.
Assim, para o pensamento grego antigo “a
Eudaimonia com Ética é um dom, é condição essencial para que alguém seja feliz.
É a razão é a faculdade que
analisa, pondera, julga, discerne. Ela nos permite distinguir o que
é Certo do Errado, a distinguir os Vícios das Virtudes. Ela
nos permite fazer escolhas pertinentes para nossa felicidade”.
Quando nos submetemos em caminhos “curtos
e tortuosos” para o alcance dos nossos objectivos, ainda que extremamente
necessários, recorrendo a práticas anti sociais, não éticas e que acima de tudo
marginalizam…, a nossa felicidade é construída sobre uma base débil, frágil,
transitória… pois, ao não obedecer a lei natural da vida, torna-se susceptível
aos contratempos próprios da vulnerabilidade humana, isto é, às vicissitudes do
tempo e da vida em si mesma.
O “mundo dá muitas voltas” diz o adágio
popular, ele redefine e se restrutura todos os dias, muitas vezes fora do nosso
controlo. Por isso, ao fazermos as nossas escolhas e ao definirmos as nossas estratégias
de aprendizagem, as nossas conquistas, os nossos projectos de vida, precisamos
ter a percepção da capacidade real e contínua de inovar e aprender do nosso eu.
Portanto, deixemos de viver pelos outros,
deixemos de agradar a gregos e a troianos, deixemos de buscar o caminho mais
fácil para a felicidade, deixemos de enxugar as nossas mágoas no despesismo,
nas drogas, na criminalidade ou na vida marginal e passemos, com ética, a
construir o nosso espaço eudaimonico onde mais do que um
sentimento, a felicidade não está
ligada aos prazeres ou as riquezas, mas a actividade prática da razão e faz
de nós e das nossas vidas, uma expressão da virtude… vale a pena a mudança... O
País agradece!
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