segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

EUDAIMONIA COM ÉTICA: OS FINS NÃO PODEM JUSTIFICAR OS MEIOS…



Concordando com as diferentes correntes que sugerem estarmos a viver numa sociedade espontânea, onde as coisas acontecem rapidamente, de tal modo imediatas e sem que haja espaços de reflexões antes de qualquer acção concertada, fico com a clara percepção de que, o mundo com as suas politiquices e os seus “pseudos” avanços tecnológicos se tornou cada vez mais veloz, o que por sua vez, capitaliza cada vez mais a variável “tempo”, encurta as distâncias e obriga uma maior perfeição nas escolhas dos caminhos mais rápidos e eficazes, para o alcance dos resultados programados “com custo mínimos”.
Nesta busca acelerada de soluções para a vida, cumprindo com a máxima de que “desde sempre o homem procurou melhores condições de vida”, fruto de modas instituídas e o constante cultivo de práticas anti-sociais, a “síndrome do imediatismo” tem cegado muitas mentes e grupos sociais, onde a ética, o profissionalismo, a justiça social e o cumprimento do dever deixaram de fazer parte das suas prioridades.
Claramente, podemos perceber por via de variadíssimos exemplos, que os exageros na luta e abusos de poder, na construção arquitectónica de maus hábitos sociais que impedem a possibilidade do desenvolvimento profissional dos mais próximos, no grau de insensibilidade, no cultivo de comportamentos invejosos, nos últimos tempos, vão dominando a vida de muitas mentes insanas, ou seja, os fins que percorrem nem sempre ponderam os meios a serem utilizados... o mesmo que dizer que os fins corrompem os meios.
Segundo alguns escritos, “os fins justificam os meios” é uma célebre frase erradamente atribuída a Nicolau Maquiavel, que significa que qualquer iniciativa é válida quando o objectivo é a conquista de algo teoricamente importante, ou seja, na tentativa de compreensão da sua obra “O Príncipe”, sugere-se que Maquiavel indica “que para se manter no poder, o Príncipe deve desenvolver características tidas como "não éticas", como a crueldade e hipocrisia”.
A busca pela felicidade desde sempre impôs uma série de conflitos internos entre o desejo do “Ser” que é manifesto por diferentes sentimentos a exemplos da “capitalização da personalidade, do cultivo de virtudes conquistadoras, do ser reconhecido, amado, elogiado, livre e útil”, etc., desejos esses que quando satisfeitos, o homem encontra a razão de viver.
Por outro lado concorre, por pressão  dos rótulos sociais e das necessidades humanas vitais, o grande desejo do “Ter” que muitas vezes, dadas as nossas limitações em contradição com as nossas ambições, a satisfação das nossas necessidades individuais ficam sujeitas ao princípio económico da lei da escassez: “recursos escassos para necessidades ilimitadas”. 
Não importa o que se deseja – muito dinheiro, ascensão na carreira profissional, cargos de chefia, bens patrimoniais, relacionamentos, habilidades ou experiências – conseguir o que se quer depende sempre da taxa de esforço para obtenção do mínimo. A verdade é que na percepção de muitos preguiçosos com consciência corrompida, meios inconfessos e um conjunto de atitudes tenebrosas se constituem num pacote de males para o alcance de tais fins.
Os exemplos são muitos, basta sairmos pelas ruas das nossas cidades com particular realce para Luanda, para observarmos um conjunto de pessoas predispostas sempre a tirar proveito das fraquezas/ingenuidade dos outros para açambarcar o máximo que pode, “sem dó nem piedade”, dos míseros rendimentos de outrem. E tudo isso se reflecte no crescente número de burlas, nas constantes lutas por cargo, na micro corrupção estampada em tudo quanto é canto dessa cidade, etc., etc..
Daí surgem as grandes questões: O que motiva o agir entre o Ser e o Ter? Quais são os estímulos e referências? Sem uma resposta certa para estes questionamentos, a definição das opções favoráveis a seguir para a conquista da “maior felicidade” passa a ser difícil e quase que impossível de ser alcançada.
Assim sendo, quando o “Ter” sobrepõe o “Ser” a vida perde a sua índole e passamos a ser capazes de “vender a alma ao diabo” onde o carácter, o escrúpulo, a humildade, o respeito e todas outras virtudes que concorrem para a construção de uma personalidade digna de convivência desaparecem e os fins passam a justificar os meios.
A pregação e a prosperidade não associada a experiências humanas, ao sacrifício e a necessidade da criatividade por exemplo, reflectem o apanágio nos dias de hoje. Contudo, a vivência por uma “Eudaimonia com Ética” significa o atingir com disposição do pleno potencial de realização pessoal, ou seja, segundo Aristóteles, “a busca da eudaimonia enquanto meta da vida humana, tem como principal motivo o exercício da felicidade em tudo quanto fazemos”.
Assim, para o pensamento grego antigo “a Eudaimonia com Ética é um dom, é condição essencial para que alguém seja feliz. É a razão é a faculdade que analisa, pondera, julga, discerne. Ela nos permite  distinguir o que é Certo do Errado,  a distinguir os Vícios das Virtudes. Ela  nos permite fazer escolhas pertinentes para nossa felicidade”.
Quando nos submetemos em caminhos “curtos e tortuosos” para o alcance dos nossos objectivos, ainda que extremamente necessários, recorrendo a práticas anti sociais, não éticas e que acima de tudo marginalizam…, a nossa felicidade é construída sobre uma base débil, frágil, transitória… pois, ao não obedecer a lei natural da vida, torna-se susceptível aos contratempos próprios da vulnerabilidade humana, isto é, às vicissitudes do tempo e da vida em si mesma.
O “mundo dá muitas voltas” diz o adágio popular, ele redefine e se restrutura todos os dias, muitas vezes fora do nosso controlo. Por isso, ao fazermos as nossas escolhas e ao definirmos as nossas estratégias de aprendizagem, as nossas conquistas, os nossos projectos de vida, precisamos ter a percepção da capacidade real e contínua de inovar e aprender do nosso eu.
Portanto, deixemos de viver pelos outros, deixemos de agradar a gregos e a troianos, deixemos de buscar o caminho mais fácil para a felicidade, deixemos de enxugar as nossas mágoas no despesismo, nas drogas, na criminalidade ou na vida marginal e passemos, com ética, a construir o nosso espaço eudaimonico onde mais do que um sentimento, a felicidade não está ligada aos prazeres ou as riquezas, mas a actividade prática da razão e faz de nós e das nossas vidas, uma expressão da virtude… vale a pena a mudança... O País agradece!

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