segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

UMA NAÇÃO PRECISA NASCER ESTÓICA E MORRER EPICURISTA

O pensamento até é antigo! Sabemos todos, ainda que de forma ilusória que, “precisamos muitas vezes viver uma tempestade para que depois venha a bonança”. Parece uma forma meio romântica de se encarar a vida mas, o seu simbolismo se reflecte na capacidade que pessoas altruístas têm de se auto desafiarem a construir um futuro melhor, que no seu começo, comporta margens de manobras complexas, muitas vezes cheias de espinhos e níveis de sacrifícios insuportáveis mas que garantem a grande motivação para viver.
Ao sugerir que uma nação tivesse que nascer “Estóica” comparando-a ao “conjunto de pessoas que acreditam no sacrifício presente, para recompensas futuras”, o filósofo e historiador norte americano Will Durant, no seu livro "A história das civilizações", se permite engrossar a fundamentação de diferentes modelos de crescimento económico endógenos, que atribuem como primeiro passo, antes do sucesso, a necessidade de criação de condições para transição de um modelo produtivo tradicional para um sistema de produção mais moderno e eficiente.
As sociedades menos desenvolvidas com a mesma realidade de Angola agrupam, por diversas razões, um conjunto de indicadores negativos como por exemplo: a desestruturação social com níveis muito baixos de acesso aos serviços básicos, a pobreza estrutural e a precariedade da estrutura de rendimentos das famílias; que quando confrontados a realidade, expõem uma série de insuficiências que per si concorrem como que sabotadoras do crescimento económico sustentado, este que é a garantia certa para a qualidade de vida das famílias.
Basta observar o grande “pugilato” entre a Imogestim e os moradores da cidade do Kilamba na hora das cobranças, os elevados custos de manutenção dos mercados informais e a venda ambulante na cidade de Luanda, os engarrafamentos, as construções anárquicas e aproveitamento ilícito das zonas fundiárias, a depravação dos bens públicos, a hipersensibilidade as doenças endémicas e, não menos importante, os elevados custos com as tentativas de correcções dos erros com programas de requalificação urbana.
Todos esses males que à partida, não representam sequer um terço dos grandes problemas sociais que destoam a construção social sustentável que se pretende, resultam de atitudes populistas tomadas no passado para se evitar uma série de sacrifícios consentidos e que hoje fragilizam de certa forma todo um conjunto de acções necessárias para a reposição da ordem pública.
Para que se combata os despesismos na Administração Pública, para que se gere mudanças no modo de produção interna ao mesmo tempo que se estimulam mudanças comportamentais nos diferentes consumidores, para que se injecte mudanças estruturais nas políticas públicas acompanhadas da geração de infra-estruturas de apoio a economia e para que se restabeleçam os níveis de confiança no sistema financeiro, há sacrifícios a suportar que podem ter implicações sociais muito fortes no curto prazo e como consequência uma baixa na popularidade política. Mas a promoção de expectativas racionais de benefícios futuros serão suficientes para a garantia do elevar dos níveis de confiança. 
Apesar da delicadeza do próprio processo em si, a luz da nossa realidade, na construção de uma estratégia de crescimento para Angola com princípios “Estóicos”, os factores políticos, e mais especificamente o ideal patriótico, deverá ser considerado preponderante na efectiva transição da estrutura política, económica e social que vivemos, para uma plataforma social mais moderna, onde o centro das atenções passa a ser o Cidadão. O mais importante vai ser criar e transformar o sentimento de pertença e direccioná-lo no sentido da mudança, rompendo com as zonas de conforto geradas, escaqueirando elos de poder criados nos diferentes sectores, empoderados pelo poder político partidário.
Ao não suportarmos tamanhos sacrifícios políticos, económicos e sociais, corremos fortes riscos de mantermos frágil a nossa estrutura produtiva, caracterizada por um arcabouço de métodos de produção com um nível de produtividade bastante limitada, na qual predomina uma economia baseada em actividades de subsistência e uma hipersensibilidade a variações do mercado internacional.
Vários são os exemplos pelo mundo fora que apontam que, uma vez consumada as transformações estruturais imprescindíveis e passados os sacrifícios necessários, na senda da analogia filosófica Durant, a sociedade passaria a viver momentos “Epicúrios”, justo porque viveria do prazer do consumo em massa. As grandes economias são construídas por indivíduos visionários que encaram a modernização da política, da economia e da sociedade, como um assunto sério e do mais elevado teor prioritário, admitindo sacrifícios no presente, para o alcance de um futuro melhor.  
Uma nação precisa nascer estóica e morrer epicurista é uma reflexão que se impõe, quando com maturidade procuramos entender o que de melhor queremos para nós e quando queremos definir uma estratégia pró-activa que nos permite com mérito estabelecer um pacto social onde o interesse comum nos permite eliminar qualquer tragédia que compromete a construção de uma sociedade boa para se viver.
Aperfeiçoemos com zelo e rigor as nossas práticas… Porque o País é nosso e nós merecemos! 

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