Nos últimos anos, no mundo inteiro, factos constantes
e sem nexos têm marcado a história de vida da humanidade. Guerras sobre o
pretexto dos “alegados combates ao terrorismo”, provocam milhares e milhares
de mortos, deslocados e submetem as famílias a uma total desestruturação e a
mais humilhante condição de vida.
Outrossim, sociedades com aparente “terrorismo não declarados”, mas com modelos de governação completamente confusos e
grosseiros nos seus ideais, submetem as suas populações a uma ridícula miséria
sem limites, onde a falta de saneamento, a ausência de serviços sociais, a
elevada taxa de esforço na aquisição do mínimo e um total desemprego dos factores
produtivos disponíveis, nos remetem a reflexões extremamente profundas sobre a
“nossa condição humana”.
Por quê? Essa é a grande questão que se
coloca!
Como será possível perceber que numa era de
grandes avanços tecnológicos, onde as sociedades mais avançadas começam por abandonar
os problemas da terra em busca de opções de pesquisas no Planeta Marte e como é
impossível não se encontrar soluções simples e sustentáveis para qualquer
problema social, económico, ou mesmo até político; pois, existem exemplos de sucessos e insucessos em
demasia pelo mundo fora, mas conseguimos, com tamanha crueldade e grau de
insensibilidade, coberta de elevadas jactâncias, submeter as sociedades a
grotesca pobreza?!
Todas essas situações refletem o erigir dos
“Egos” de quem detém o poder, muitas vezes adquirido, e é claro que, a base da manipulação dos
sentimentos das suas populações, na sua maioria com baixo índice de
escolarização e conhecimento holístico da vida em sociedade e que, por isso,
facilmente se deixam enganar.
Quando consultado em diferentes repositórios
filosóficos, o termo “Egocentrismo” tem o seu primeiro marco no século XVIII
para indicar a “atitudes de quem dá importância tónica a si mesmo ou aos seus
próprios juízos, sentimentos ou necessidades e pouco ou nada se preocupa com os
outros”.
Immanuel Kant, amplamente considerado como o
principal filósofo da era moderna, sugere que "a partir do dia em que
o homem começa a falar em primeira pessoa, ele passa a pôr o seu querido EU na
frente de tudo, e o Egoísmo progride incessantemente, sub-reptícia ou
abertamente”.
Já o conceito de esplanada (termo muito usado
por nós aqui na banda), representa para nós, o lugar ao ar livre com mesas e
cadeiras onde se come ou se tomam bebidas, refrigerantes, café, etc., ou mesmo
um espaço de convívio, de realização de festas ou outras actividades que
envolvem sempre prazer, lazer e diversão.
A combinação da “Esplanada” com o “Egocentrismo”,
no nosso contexto, resulta da percepção que cada vez mais absorvemos do dia a
dia e que assimila nas nossas histórias, vezes sem conta, chavões como: “somos
os melhores do mundo”, “nascido com a quarta classe”, “somos um povo especial”,
“construímos e realizamos o maior facto de áfrica”, etc., etc.; representam bem
o nosso ser, carregado de uma exaltação excessiva da própria
personalidade, fazendo com que nos sintamos o centro das atenções.
Qualquer
dicionário de língua portuguesa, define o Egocentrismo enquanto condição
ou estado de espírito, ou como o estágio em que o indivíduo não
consegue demonstrar empatia, ou seja, não consegue colocar-se no lugar do
outro, porque está constantemente ocupado com o seu "eu" e com os
seus próprios interesses.
Porém, até ali, tudo bem... Salvo se não
fosse o facto de que as nossas vaidades egoístas, que nos levam a pensar com
exclusividade em nós, em primeiro lugar, não nos remete a erros graves de abuso
de poder, de violação sistemática das normas e princípios a nossa volta, do
aproveitamento sistemático do sofrimento dos outros, ou mesmo, não menos
importante, do “cabritismo” exacerbado em que a competência e o mérito são
substituídas pelo nepotismo, clientelismo e um narcisismo carregado de processos mais ou menos
demagógicos e “favoritistas”.
O “egocentrismo”,
raiz amarga de todos os males da humanidade, no nosso país é o grande
responsável e promotor pela super valorização dos partidos políticos em
detrimento do cidadão angolano; dos desvios comportamentais em detrimento das
práticas de boa governação; da sub-valorização da assistência social em
prejuízo da garantia de educação,
serviços de saúde eficientes e consequente justiça social; de uma administração
local activista em contrapartida de um poder local efectivo e consistente; de muitas
promessas não cumpridas, etc..
Ou seja,
enquanto anunciamos as nossas vaidades e nos preocupamos com o melhor carro, o
melhor relógio, a melhor atitude materialista (vivida acima das nossas reais
capacidades), as famílias sofrem com águas paradas, bairros cheios de mosquitos
e sem mínimo de sobrevivência. Os jovens com mente desocupada e pré-dispostos
aos males da vida estão expostos ao aumento dos níveis de consumo de droga, de prostituição,
de criminalidade e outros males típicos de sociedades subdesenvolvidas acontecem
e se desenvolvem. O que é pior, os nossos egos não nos permitem observar tal
situação.
Platão, nos seus diferentes estudos, já demostrou
que o "amor desmensurado por si mesmo" é a causa de todas as culpas
dos homens. Embora o Egoísmo tenha sido considerado, muitas vezes, uma atitude
natural do homem.
A edificação constante
de poderes paralelos com estruturas informais determinantes para a
desconstrução social, demostram de forma clara os males provocados e as
consequências graves que indivíduos egocêntricos, com imaginações
férteis, se encontram no pensamento tão permanentemente ocupado com o seu próprio
Eu e os seus interesses e, são incapazes de se colocar no lugar de outros e de
contemplar, do ponto de vista de outro Eu, a matriz ou aspecto que podem
facilitar outras opções e outros acontecimentos.
Importante mesmo é que reflitamos sobre as
nossas práticas e passemos a desenvolver atitudes inclusivas. Porque somos
imperfeitos, erramos com as pessoas e connosco mesmos, precisamos ser capazes de entender que os outros indivíduos possuem
crenças, opiniões e pensamentos diferentes dos nossos. Abramos as portas para o
pensamento crítico, passemos a engrandecer o NÓS em detrimento do EU... O país
ganhará com isso, os problemas serão mais facilmente resolvidos e a sociedade
estará bem mais disposta para cooperar e fazer desse país um belo espaço para
se viver.
Pensar assim é menos egoísta. O erro e
imperfeição de muitos é acreditar demais que são os melhores, acreditar que são
invencíveis, e assim com esse pensamento mesquinho, acabam provocando maior
sofrimento as pessoas. Tudo na vida depende de equilíbrio, concentração e
esforço. O pensamento filosófico de Platão sugere que “a boa educação deveria
servir como forma de desenvolver o homem moral” e isso é uma grande verdade.
Parece uma forma romântica de pensar, porém,
a verdade é uma, ser egocêntrico não ajuda no crescimento económico, político e
social. Os cidadãos na sua humildade sabem julgar por mais inoportuno que
pareça, fazer observações constantes sobre o dia a dia da sua comunidade,
percebem à sua maneira as diferentes soluções possíveis, por isso, blindar as
nossas imperfeições e erros graves, abre chances para se perpetuar o mal e em
consequência disso agudizam-se os espíritos.
Deixemos de fingir, perante nós e os
outros, com medo de ferir as nossas sensibilidades. Deixemos de “vender Egos”
em “esplanadas sem clientes” e sejamos capazes de sermos atrevidos ao enfrentarmos
a realidade, saiamos da zona de conforto onde o imediatismo, as agendas de
curto prazo, o populismo e a falta de ideias que se traduzem em acções práticas
são o apanágio e arrisquemo-nos a progredir... O País merece e é Nosso!.
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