sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ESPLANADA DO (EGO)CENTRISMO ... REFLEXÕES FORA DA CAIXA...

Nos últimos anos, no mundo inteiro, factos constantes e sem nexos têm marcado a história de vida da humanidade. Guerras sobre o pretexto dos “alegados combates ao terrorismo”, provocam milhares e milhares de mortos, deslocados e submetem as famílias a uma total desestruturação e a mais humilhante condição de vida.
Outrossim, sociedades com aparente “terrorismo não declarados”, mas com modelos de governação completamente confusos e grosseiros nos seus ideais, submetem as suas populações a uma ridícula miséria sem limites, onde a falta de saneamento, a ausência de serviços sociais, a elevada taxa de esforço na aquisição do mínimo e um total desemprego dos factores produtivos disponíveis, nos remetem a reflexões extremamente profundas sobre a “nossa condição humana”.
Por quê? Essa é a grande questão que se coloca!
Como será possível perceber que numa era de grandes avanços tecnológicos, onde as sociedades mais avançadas começam por abandonar os problemas da terra em busca de opções de pesquisas no Planeta Marte e como   é impossível não se encontrar soluções simples e sustentáveis para qualquer problema social, económico, ou mesmo até político; pois,  existem exemplos de sucessos e insucessos em demasia pelo mundo fora, mas conseguimos, com tamanha crueldade e grau de insensibilidade, coberta de elevadas jactâncias, submeter as sociedades a grotesca pobreza?!
Todas essas situações refletem o erigir dos “Egos” de quem detém o poder, muitas vezes adquirido,  e é claro que, a base da manipulação dos sentimentos das suas populações, na sua maioria com baixo índice de escolarização e conhecimento holístico da vida em sociedade e que, por isso, facilmente se deixam enganar.
Quando consultado em diferentes repositórios filosóficos, o termo “Egocentrismo” tem o seu primeiro marco no século XVIII para indicar a “atitudes de quem dá importância tónica a si mesmo ou aos seus próprios juízos, sentimentos ou necessidades e pouco ou nada se preocupa com os outros”.
Immanuel Kant, amplamente considerado como o principal filósofo da era moderna, sugere que "a partir do dia em que o homem começa a falar em primeira pessoa, ele passa a pôr o seu querido EU na frente de tudo, e o Egoísmo progride incessantemente, sub-reptícia ou abertamente”.
Já o conceito de esplanada (termo muito usado por nós aqui na banda), representa para nós, o lugar ao ar livre com mesas e cadeiras onde se come ou se tomam bebidas, refrigerantes, café, etc., ou mesmo um espaço de convívio, de realização de festas ou outras actividades que envolvem sempre prazer, lazer e diversão.
A combinação da “Esplanada” com o “Egocentrismo”, no nosso contexto, resulta da percepção que cada vez mais absorvemos do dia a dia e que assimila nas nossas histórias, vezes sem conta, chavões como: “somos os melhores do mundo”, “nascido com a quarta classe”, “somos um povo especial”, “construímos e realizamos o maior facto de áfrica”, etc., etc.; representam bem o nosso ser, carregado de uma exaltação excessiva da própria personalidade, fazendo com que nos sintamos o centro das atenções.
Qualquer dicionário de língua portuguesa, define o Egocentrismo enquanto condição ou estado de espírito, ou como o estágio em que o indivíduo não consegue demonstrar empatia, ou seja, não consegue colocar-se no lugar do outro, porque está constantemente ocupado com o seu "eu" e com os seus próprios interesses.
Porém, até ali, tudo bem... Salvo se não fosse o facto de que as nossas vaidades egoístas, que nos levam a pensar com exclusividade em nós, em primeiro lugar, não nos remete a erros graves de abuso de poder, de violação sistemática das normas e princípios a nossa volta, do aproveitamento sistemático do sofrimento dos outros, ou mesmo, não menos importante, do “cabritismo” exacerbado em que a competência e o mérito são substituídas pelo nepotismo, clientelismo e um narcisismo carregado de processos mais ou menos demagógicos e “favoritistas”.
O “egocentrismo”, raiz amarga de todos os males da humanidade, no nosso país é o grande responsável e promotor pela super valorização dos partidos políticos em detrimento do cidadão angolano; dos desvios comportamentais em detrimento das práticas de boa governação; da sub-valorização da assistência social em prejuízo  da garantia de educação, serviços de saúde eficientes e consequente justiça social; de uma administração local activista em contrapartida de um poder local efectivo e consistente; de muitas promessas não cumpridas, etc..
Ou seja, enquanto anunciamos as nossas vaidades e nos preocupamos com o melhor carro, o melhor relógio, a melhor atitude materialista (vivida acima das nossas reais capacidades), as famílias sofrem com águas paradas, bairros cheios de mosquitos e sem mínimo de sobrevivência. Os jovens com mente desocupada e pré-dispostos aos males da vida estão expostos ao aumento dos níveis de consumo de droga, de prostituição, de criminalidade e outros males típicos de sociedades subdesenvolvidas acontecem e se desenvolvem. O que é pior, os nossos egos não nos permitem observar tal situação.
Platão, nos seus diferentes estudos, já demostrou que o "amor desmensurado por si mesmo" é a causa de todas as culpas dos homens. Embora o Egoísmo tenha sido considerado, muitas vezes, uma atitude natural do homem.
A edificação constante de poderes paralelos com estruturas informais determinantes para a desconstrução social, demostram de forma clara os males provocados e as consequências graves que indivíduos egocêntricos, com imaginações férteis, se encontram no pensamento tão permanentemente ocupado com o seu próprio Eu e os seus interesses e, são incapazes de se colocar no lugar de outros e de contemplar, do ponto de vista de outro Eu, a matriz ou aspecto que podem facilitar outras opções e outros acontecimentos.
Importante mesmo é que reflitamos sobre as nossas práticas e passemos a desenvolver atitudes inclusivas. Porque somos imperfeitos, erramos com as pessoas e connosco mesmos, precisamos ser capazes  de entender que os outros indivíduos possuem crenças, opiniões e pensamentos diferentes dos nossos. Abramos as portas para o pensamento crítico, passemos a engrandecer o NÓS em detrimento do EU... O país ganhará com isso, os problemas serão mais facilmente resolvidos e a sociedade estará bem mais disposta para cooperar e fazer desse país um belo espaço para se viver.
Pensar assim é menos egoísta. O erro e imperfeição de muitos é acreditar demais que são os melhores, acreditar que são invencíveis, e assim com esse pensamento mesquinho, acabam provocando maior sofrimento as pessoas. Tudo na vida depende de equilíbrio, concentração e esforço. O pensamento filosófico de Platão sugere que “a boa educação deveria servir como forma de desenvolver o homem moral” e isso é uma grande verdade.
Parece uma forma romântica de pensar, porém, a verdade é uma, ser egocêntrico não ajuda no crescimento económico, político e social. Os cidadãos na sua humildade sabem julgar por mais inoportuno que pareça, fazer observações constantes sobre o dia a dia da sua comunidade, percebem à sua maneira as diferentes soluções possíveis, por isso, blindar as nossas imperfeições e erros graves, abre chances para se perpetuar o mal e em consequência disso agudizam-se os espíritos.
Deixemos de fingir, perante nós e os outros, com medo de ferir as nossas sensibilidades. Deixemos de “vender Egos” em “esplanadas sem clientes” e sejamos capazes de sermos atrevidos ao enfrentarmos a realidade, saiamos da zona de conforto onde o imediatismo, as agendas de curto prazo, o populismo e a falta de ideias que se traduzem em acções práticas são o apanágio e arrisquemo-nos a progredir... O País merece e é Nosso!. 

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