sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

ENTRE A PUNIÇÃO E O EDUCAR COM EXEMPLOS... REFLEXÕES FORA DA CAIXA...


Um dos grandes dilemas das sociedades modernas hoje, circunscreve-se na grande necessidade de tomada de decisão entre o Punir dos considerados “maus hábitos”, muitos dos quais enquadrados apenas, nas questões de estética e sem muitas implicações no processo de convivência social e na gestão urbana e, a cedência de um espaço de sensibilização pública tomando como referência o Educar com exemplos.
O exemplo mais clássico tem a ver com o processo de descriminalização/legalização do uso de drogas. Diferentes correntes entendem e fundamentam que “com sua implementação, se enfraquece a rede de tráfico e o seu poder de aliciamento de novos usuários, supondo-se ser mais fácil lidar com os danos”; outras correntes defendem e fundamentam que a legalização “levaria ao raciocínio trágico de que todas as leis devem ser banidas para que as pessoas se comportem melhor, respeitando umas às outras” – o que seria extremamente ilusório.
Para o caso específico da nossa realidade, observa-se que a aptidão em Punir em detrimento do Educar com exemplo se faz cada vez mais usual, justo porque punir é mais fácil, exige menos sacrifício em pensar em alternativas e atitudes complementares a uma mente ociosa, enquanto, o Educar com exemplo exige sacrifício, exige abstinência ao erro, exige viver pelos outros e acima de tudo, o assumir da responsabilidade do desenvolvimento de uma estratégia sócio-educativa que poderá influenciar o “infractor” a uma mudança de comportamento.
Por exemplo, ao se pensar erradamente, em elevar o número de efectivos policiais de trânsito, acreditando na ideia mágica de que com o aumento de multas policiais sobre as infracções de trânsito, os automobilistas passariam a se comportar bem, perdemos a oportunidade de reflectir sobre a definição de uma estratégia sócio-educativa que mais do que Punir, Educaria não só o automobilista a ter um comportamento mais racional no trânsito, como também, os peões e todos outros que intervêm na “Segurança Rodoviária” permitindo assim um menor número de mortes, uma maior fluídez no trânsito e o surgimento de um custo de transporte suportável para o aparecimento de uma plataforma logística eficiente e capaz de suportar a economia.
Um outro exemplo se aplica a luta gigantesca do Governo de Luanda para com o comércio informal. A avidez na formação de fiscais casmurros com uma capacidade forte de persuadir, por exemplo, os zungueiros (vendedores de rua) com decisões administrativas ou judiciais que acarretam uma penalização seja ela pecuniária, restritiva de liberdade ou de direito, mais soa a diversão numa fundamentação a fábula do “gato e rato”, do que no verdadeiro interesse de se buscar uma solução eficaz e competente.
Um conjunto de acções que envolvessem a inclusão social do Zungueiro na sua vida familiar, educacional, social, profissional e até cidadã, produziriam mais efeito e menos desperdício, fortaleceria mais as mulheres e jovens envolvidos para um exercício de alguma actividade laboral ou de oficinas pedagógicas, reinserindo-os no contexto da sua comunidade, aumentando, assim, a sua autoestima e despertando outros valores de cidadania, como solidariedade, honestidade, sociabilidade e respeito ao erário público ou se quisermos, ao bem comum. 
No entanto, diferentes estudos que abordam as ciências sociais aplicadas, sugerem que, pequenos gestos podem ajudar mais a mudanças nas pessoas e de comportamentos, ou seja, não apenas insinuam, mas deixam claro que “a medida adequada não é aquela que tem como referencial apenas a gravidade da infracção, mas aquela que leva em conta, sobretudo, as necessidades do indivíduo, o seu perfil e as suas chances de construir um novo projecto de vida”.
Teoricamente, todos nós gozamos dos direitos, das liberdades e das garantias constitucionalmente consagradas e estamos sujeitos aos deveres estabelecidos na Constituição e na lei. Porém, é importante educar os cidadãos para que saibam que, por exemplo, o exercício das suas liberdades e dos seus direitos constitucionalmente previstos, terminam onde começam as liberdades e os direitos dos outros, ou seja, os direitos e liberdades não são absolutos.
Essa consciência vai permitir que os recursos desprendidos para o uso cabal e nefasto da violência para reprimir (nos dois exemplos citados ou noutros), valorizando, cada vez mais, a dimensão punitiva onde a sanção é o elemento mais importante da responsabilização; sejam substituídos por um conjunto de acções práticas, menos populistas e mais pedagógicas, que comportam medidas sócio-educativas que permitem que a sociedade valorize mais a emancipação das boas práticas e consequente reinserção social do indivíduo.
O dever que todos nós temos, enquanto cidadãos, impõe que sejamos exemplos de sucesso para com a família em que estamos inseridos, para com a sociedade, para com o Estado e, em especial, para com as novas e futuras gerações.
As sociedades que mais evoluem e que conseguem sair com facilidade das grandes atribulações sociais, económicas e políticas, são aquelas com modelos educacionais que favorecem a construção cidadã da mente do seu povo.
Quando assim procedermos, as nossas (melhores) leis (do mundo) mais do que punitivas, deverão sempre atingir, não somente o cidadão que comete em si, mas toda a sua dimensão humana, ou seja, deverão incluir a sua vida profissional, familiar e social. E isso é muito para além do indivíduo.
Nos últimos anos, as autoridades angolanas competentes, têm sido persistentes em Punir em vez de de Educar, mais preocupadas com o “Direito” do que com a “Justiça” que salvaguarda os reais interesses dos cidadãos. Temos sido ágeis em rotular e, com estigma e discriminação, excluir os que “não são nossos”, postergando a necessidade que temos de fazermos das nossas fraquezas conquistas… enquanto isso a caravana passa lentamente e o mundo se transmuta para as novas realidades e, as estatísticas vão marcando o tempo de atraso… 50, 100, ou mesmo 150 anos de atraso em relação aos concorrentes mais directos.
A reclamação sobre ausência de exemplos e referências é verdadeira. Mas também é verdadeira a ideia de que ainda é possível… É possível pautar-se fundamentalmente, na adopção pedagógica de mecanismos de inclusão social, que sejam capazes de persuadir o cidadão angolano com valores, ampliando os seus horizontes e a sua condição de sonhar, que é capaz de ser um cidadão respeitado e, capaz de desenvolver todas as suas potencialidades esquecidas diante da vida dura e desumana que o fez esquecer do “ser” e o obrigou a lutar pelo “ter”, ou seja, pela sobrevivência.… Falta-nos apenas atitude.

Que 2017 seja melhor!

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