Um dos temas que mais preenche a
“ladainha” das ambições do discurso público, decorre da intenção de fazer do
mercado angolano uma paragem obrigatória do Investimento Directo Estrangeiro
(IDE). Acredita-se, com alguma persistência carregada de excessivo optimismo,
que há um custo de oportunidade acessível e quase que exclusivo, que influencia
qualquer investidor a ter Angola como uma opção de prioridade para o investimento.
Analisado de forma fria, os mesmos
canais de divulgação e mobilização para o fomento do negócio são utilizados por
“opções adversas”, quase que numa disputa selvagem de quem melhor demonstra o
lado “podre da laranja”- A perspectiva filosófica da laranja reflecte uma
metáfora que exemplifica o quanto um agricultor pode perder uma cesta de
laranja, cultivada com tanto sacrifício por causa da intrusão de uma laranja
podre, ou o quanto pessoas com atitudes extremamente negativas e com poder de
persuasão, influenciam facilmente o “modus
pēnsāre” dos que estão a sua
volta, contaminando com ideias e atitudes maldosas e prejudiciais.
A verdade é uma, enquanto
(con)vivemos nessa letargia em que uns demostram o lado mais “bom da laranja”,
com efeito para criação de oportunidade de negócio e, outros, usam do seu
direito de pressão, demonstram o lado mais “ruim da laranja”, na intenção de
provocar mudanças que se impõem no mercado, daí fazer negócio em Angola
continua a ser um “Deus nos acuda” e em surdina, países pequenos como Uganda,
Tanzânia, Zâmbia e os outros, vão conquistando de forma cada vez mais atractiva
lugares cimeiros na arena dos caminhos
do IDE em África.
Vezes sem conta, ouvimos lamentações
quer de empresários nacionais, quer de investidores estrangeiros sobre o grau
de dificuldade que enfrentam no dia a dia, para accionar mecanismos legais para
o exercício de qualquer actividade empresarial. Existe uma lista enorme sobre
questões que condicionam o sucesso de qualquer investimento e que bloqueiam,
com contundência, os potenciais retornos financeiros à escala e que se traduzem num elevado risco para o Ambiente
de Negócios.
O conceito de Risco para o Investimento, enquanto
potencial perda resultante da aplicação do investimento, a depender do
contexto, gera para o investidor diferentes significados. Pode ser expresso “pela
volatilidade dos preços dos activos” ou “pela descrição de possibilidades de
acontecimentos periféricos que envolvem o activo considerado, seja por factores
internos ou externos”.
Para o mercado
angolano, o Risco para o Investimento resulta da elevada taxa de esforço para
obtenção do mínimo, fruto da precariedade do seu ambiente de negócios.
Observando o Índice
Doing Business, do Banco Mundial, Angola se situa no 181.º lugar entre 189 países, numa média
regional
baixa se comparada as nações vizinhas da SADC e aos países membros
da CPLP. A conclusão é que não
obstante os esforço para melhorar o seu desempenho, o ritmo de mudanças parece
ser inferior ao das outras nações.
Coisa para dizer: “quem vai à feira perde a cadeira”.
Os diferentes indicadores
internacionais de sucesso referenciam Angola como
sendo um mercado desfavorável quer para o grau de protecção dos investidores, quer
para o nível de carga fiscal e a referida facilidade de abertura de negócio, ou
ainda, para a resolução de pedidos de insolvência, entre outros.
Porém, numa altura em
que Angola tanto precisa de atrair novos investimentos estas não são boas
notícias, dado que o Ambiente de Negócios influencia largamente na tomada de
decisões por parte dos investidores internacionais:
- Para alguns, o grande problema se
concentra na burocracia, uma espécie de blindagem, que envolve todo um sistema
de suporte da Administração Pública. Facto muito bem explorado pelos agentes do
Estado responsáveis para recepção e tratamento de informação;
- Para outros, numa espécie de luta
entre o formal e o informal, se submetem a necessidade de pagamentos de comissões
(negociatas resultantes do tráfico de influências), onde existência de “accionistas
fantasmas”, sim fantasmas porque não fazem parte do corpo de accionistas
legalmente reconhecidos, não contribuem para o património na concepção do
negócio, não conhecem a sede da empresa, mais ainda assim, se consideram parte
integrante do processo e consideram o sucesso do negócio apenas como sendo seu.
Diferente da nossa
realidade, uma boa parte dos investidores estrangeiros disponíveis no mercado
internacional acumulou o seu capital (disponível para o investimento) durante
longos anos de vida e, mais do que isso, a sua riqueza está indexada as
heranças familiares, logo, nenhum deles estará disposto a submeter, com todos
os riscos possíveis, muitos deles fora do âmbito do negócio, os seus
investimentos.
Desta feita, nem sempre o sector
privado estará disposto a assumir tais riscos. E só por isso, precisamos fazer
dos nossos problemas um custo de oportunidade em que o Estado gaste o seu tempo
com a garantia da estabilidade macroeconómica e com o suporte regulador da
economia e o Investidor se ocupa em fazer das nossas estradas, dos nossos
centros de pesquisa, da falta de energia e da distribuição da água (só para
citar alguns), uma verdadeira oportunidade de negócios.
A necessidade de um pacto social
fiável, onde todos cooperam para a existência de um sistema equilibrado que estreita
a coordenação entre Estado, Empresas, Bancos e outros Agentes Económicos vai
permitir um elevar dos níveis de confiança e consequentemente se vai traduzir
na percepção que se tem sobre a eliminação dos grandes “cancros” que afectam a
nossa sociedade.
Assim, a
necessidade de mudança é urgente e impõe a baixa da guarda. Precisamos com
acutilância demonstrar ao mundo que as nossas diferenças não põem em risco as
dinâmicas sociais, a estabilidade política e económica e não põem em causa o
grande ideal da construção integrada de uma sociedade sã para se viver.
“Para o bom entendedor
meia palavra basta...”
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