segunda-feira, 28 de novembro de 2016

NEM SEMPRE O SECTOR PRIVADO ESTÁ DISPOSTO A ASSUMIR RISCOS...

Um dos temas que mais preenche a “ladainha” das ambições do discurso público, decorre da intenção de fazer do mercado angolano uma paragem obrigatória do Investimento Directo Estrangeiro (IDE). Acredita-se, com alguma persistência carregada de excessivo optimismo, que há um custo de oportunidade acessível e quase que exclusivo, que influencia qualquer investidor a ter Angola como uma opção de prioridade para o investimento.
Analisado de forma fria, os mesmos canais de divulgação e mobilização para o fomento do negócio são utilizados por “opções adversas”, quase que numa disputa selvagem de quem melhor demonstra o lado “podre da laranja”- A perspectiva filosófica da laranja reflecte uma metáfora que exemplifica o quanto um agricultor pode perder uma cesta de laranja, cultivada com tanto sacrifício por causa da intrusão de uma laranja podre, ou o quanto pessoas com atitudes extremamente negativas e com poder de persuasão, influenciam facilmente o “modus pēnsāre” dos que estão a sua volta, contaminando com ideias e atitudes maldosas e prejudiciais.
A verdade é uma, enquanto (con)vivemos nessa letargia em que uns demostram o lado mais “bom da laranja”, com efeito para criação de oportunidade de negócio e, outros, usam do seu direito de pressão, demonstram o lado mais “ruim da laranja”, na intenção de provocar mudanças que se impõem no mercado, daí fazer negócio em Angola continua a ser um “Deus nos acuda” e em surdina, países pequenos como Uganda, Tanzânia, Zâmbia e os outros, vão conquistando de forma cada vez mais atractiva lugares cimeiros  na arena dos caminhos do IDE em África.
Vezes sem conta, ouvimos lamentações quer de empresários nacionais, quer de investidores estrangeiros sobre o grau de dificuldade que enfrentam no dia a dia, para accionar mecanismos legais para o exercício de qualquer actividade empresarial. Existe uma lista enorme sobre questões que condicionam o sucesso de qualquer investimento e que bloqueiam, com contundência, os potenciais retornos financeiros à escala  e que se traduzem num elevado risco para o Ambiente de Negócios.
O conceito de Risco para o Investimento, enquanto potencial perda resultante da aplicação do investimento, a depender do contexto, gera para o investidor diferentes significados. Pode ser expresso “pela volatilidade dos preços dos activos” ou “pela descrição de possibilidades de acontecimentos periféricos que envolvem o activo considerado, seja por factores internos ou externos”.
Para o mercado angolano, o Risco para o Investimento resulta da elevada taxa de esforço para obtenção do mínimo, fruto da precariedade do seu ambiente de negócios. Observando o Índice Doing Business, do Banco Mundial, Angola se situa no 181.º lugar entre 189 países, numa média regional baixa se comparada as nações vizinhas da SADC e aos países membros da CPLP. A conclusão é que não obstante os esforço para melhorar o seu desempenho, o ritmo de mudanças parece ser inferior ao das outras nações. Coisa para dizer: “quem vai à feira perde a cadeira”.
Os diferentes indicadores internacionais de sucesso referenciam Angola como sendo um mercado desfavorável quer para o grau de protecção dos investidores, quer para o nível de carga fiscal e a referida facilidade de abertura de negócio, ou ainda, para a resolução de pedidos de insolvência, entre outros.
Porém, numa altura em que Angola tanto precisa de atrair novos investimentos estas não são boas notícias, dado que o Ambiente de Negócios influencia largamente na tomada de decisões por parte dos investidores internacionais:
-       Para alguns, o grande problema se concentra na burocracia, uma espécie de blindagem, que envolve todo um sistema de suporte da Administração Pública. Facto muito bem explorado pelos agentes do Estado responsáveis para recepção e tratamento de informação;
-       Para outros, numa espécie de luta entre o formal e o informal, se submetem a necessidade de pagamentos de comissões (negociatas resultantes do tráfico de influências), onde existência de “accionistas fantasmas”, sim fantasmas porque não fazem parte do corpo de accionistas legalmente reconhecidos, não contribuem para o património na concepção do negócio, não conhecem a sede da empresa, mais ainda assim, se consideram parte integrante do processo e consideram o sucesso do negócio apenas como sendo seu.
Diferente da nossa realidade, uma boa parte dos investidores estrangeiros disponíveis no mercado internacional acumulou o seu capital (disponível para o investimento) durante longos anos de vida e, mais do que isso, a sua riqueza está indexada as heranças familiares, logo, nenhum deles estará disposto a submeter, com todos os riscos possíveis, muitos deles fora do âmbito do negócio, os seus investimentos.
Desta feita, nem sempre o sector privado estará disposto a assumir tais riscos. E só por isso, precisamos fazer dos nossos problemas um custo de oportunidade em que o Estado gaste o seu tempo com a garantia da estabilidade macroeconómica e com o suporte regulador da economia e o Investidor se ocupa em fazer das nossas estradas, dos nossos centros de pesquisa, da falta de energia e da distribuição da água (só para citar alguns), uma verdadeira oportunidade de negócios.
A necessidade de um pacto social fiável, onde todos cooperam para a existência de um sistema equilibrado que estreita a coordenação entre Estado, Empresas, Bancos e outros Agentes Económicos vai permitir um elevar dos níveis de confiança e consequentemente se vai traduzir na percepção que se tem sobre a eliminação dos grandes “cancros” que afectam a nossa sociedade.
Assim, a necessidade de mudança é urgente e impõe a baixa da guarda. Precisamos com acutilância demonstrar ao mundo que as nossas diferenças não põem em risco as dinâmicas sociais, a estabilidade política e económica e não põem em causa o grande ideal da construção integrada de uma sociedade sã para se viver.
 “Para o bom entendedor meia palavra basta...” 


Sem comentários:

Enviar um comentário

  PAIDEIA: DO CAOS À SIMPLIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO A justificação veio dos principais gestores de alguns bancos da nossa praça, segundo ...