terça-feira, 17 de outubro de 2017

A DESVALORIZAÇÃO NÃO É A ÚNICA SOLUÇÃO MAIS ACERTADA…

Há uma discussão muito forte no mundo de alguns tomadores de decisão e de alguns economistas, sobre a possibilidade de mais uma desvalorização do Kwanza ou não nos próximos tempos e, sobre qual seria o tempo certo para a desvalorização.
Muitos condicionam e acreditam, por via de seus discursos, que a estabilidade do mercado cambial em Angola depende, com exclusividade, da flexibilização da política cambial, ou seja, o mercado de divisas sofreria menos pressão e haveria maiores garantias para a estabilização das reservas internacionais líquidas;
Outros acreditam que uma desvalorização do Kwanza permite que o país se torne mais competitivo no comércio exterior, aumente as exportações e, dado o efeito multiplicador, o tão propalado crescimento económico aconteceria através de uma maior demanda de produtos “feitos em Angola”.
A avaliação de uma tomada de decisão como esta obriga, sobretudo quando existem duas ou mais alternativas de solução para um mesmo problema, uma profunda reflexão. Uma definição adequada do problema é o passo mais importante para solucioná-lo, e o mais comum é o conhecimento dos reflexos internos e externos.
Nestes termos, os “amigos da desvalorização do Kwanza”, deverão tomar em consideração os seguintes QUATRO aspectos importantes:
PRIMEIRO: A pressão sobre as divisas decorre da incapacidade de auto-sustentação do mercado nacional. Ou seja, é do conhecimento de todos que todo o mínimo que é produzido neste país depende directa ou indirectamente da importação, logo, o encarecimento da importação por vias do enfraquecimento do Kwanza, longe de alterar unicamente os preços dos bens e serviços importados, também significará o encarecimento da produção nacional.
Outro sim, por efeito perverso, a desvalorização se traduziria numa morte anunciada das micros, pequenas e médias empresas que ainda resistem as vitupereis do mercado actual.
SEGUNDO: Acreditar no aumento do volume de exportações pelo acto simples de desvalorizar é, no mínimo, uma “UTOPIA”… Já que a estrutura produtiva interna é extremamente condicionada aos aspectos periféricos que concorrem para a minimização do custo de se produzir em Angola.
Estamos a falar, por exemplo, da frágil infra-estruturas logística de apoio a produção: transporte, comunicação, assistência técnica e reposição de peças, do acesso a energia, água e até da mobilidade interna de acesso ao mínimo de sobrevivência empresarial.
Não é romancismo, e nem uma leitura superficial do mercado nacional. É uma realidade nua e crua! A probabilidade de escassearmos das prateleiras e bancadas dos mercados, a oferta de bens e serviços “Feitos em Angola” e como tal observarmos o registo do aumento desenfreado de preços é quase que efectivo.
TERCEIRO: Pode não parecer aos olhos de muitos “iluminados”, mas a possibilidade de existência de um elevado grau de sensibilidade dos preços na economia nacional, por inerência da já anunciada desvalorização do Kwanza é um facto.
O que quer dizer, que um possível aumento generalizado dos preços na economia nacional, não apenas alteraria os indicadores inflacionários, bem como acabaria por provocar como consequência, fortes alterações nas taxas de juros e na perda do poder de compra dos diferentes consumidores.
Se aliada tais consequências ao actual estágio económico, a probabilidade de caminharmos para um colapso económico e social, com custos políticos muito elevados, nos próximos tempos, é uma certeza.
QUARTO: Uma revisão dos trabalhos empíricos sobre os determinantes do investimento, quer ele seja nacional, quer seja directo estrangeiro (IDE), mostra que uma das principais forças que influenciam os projectos de investimento é factor “grau de estabilidade macroeconómica”.
Nestes termos, de acordo com a sua natureza, a decisão de se investir se concebe em uma perspectiva de longo prazo. Isto é, a avaliação do investidor interno ou externo é fortemente influenciada pelo “grau de irreversibilidade devido ao facto de que os custos irrecuperáveis são influenciados não apenas por questões específicas à indústria, mas também por questões relativas a incerteza macroeconómica, política e institucional do país destino do capital”.
Não obstante a isto, numa economia globalizada, com poucas restrições à mobilidade do capital e com empresas multinacionais a operar em diferentes mercados, alterações constantes das políticas económicas que põem em causa a rentabilidade relativa dos investimentos, permitem a realocação da produção para aqueles países mais competitivos.
Portanto, “sendo o Kwanza uma moeda de circulação fechada, instável, com registos de perda de valor constante nos últimos 3 anos, a desvalorização cambial influenciaria, negativamente, na vontade de se investir num país com este critério depreciativo modal”, já que é inegável, que a decisão do Investimento flutue conforme as expectativas de rentabilidade do investimento no país receptor do capital.
CONCLUINDO: O compromisso com a estabilidade da moeda nacional (o Kwanza) é um imperativo e não se compatibiliza com o mero acto de desvalorização, que para mim, continua parecer uma circunstancia mais de zona de conforto, do que de atitude sensata e bem pensada.
A análise dos determinantes da valorização da moeda nacional implicam levar em consideração tanto as variáveis microeconómicas, directamente ligadas ao desempenho da economia nacional, quanto as variáveis macroeconómicas e institucionais, que evidenciam os factores específicos que contribuem para a limitação do acesso as divisas nas circunstancias actuais.
O estímulo a produção nacional se faz urgente, a correcção de pequenos actos que destroem a vontade de se investir em Angola deve constar da lista das prioridades.
Nossa opinião é que se tal situação tivesse que acontecer, o processo de desvalorização da moeda nacional deveria ser antecedido de um conjunto de acções que consistem na identificação, quantificação e determinação de todos os custos e benefícios legitimamente atribuíveis a tal tomada de decisão e compará-los a sua rentabilidade social.
A desvalorização do Kwanza, não vai fazer do BNA muito mais “honesto” na alocação das divisas existentes, não vai limitar os processos de branqueamento de capitais que limitam o acesso aos dólares no mercado internacional, não é uma certeza de uma gestão parcimoniosa do erário público. Logo, a desvalorização continua a não a solução dos nossos problemas.
Continuo a cultivar a ideia de que... A decisão sobre a necessidade ou não da desvalorização transcende os manuais de instrução de economia... Pessimismos ou exagerados a parte... talvez... mas o custo social da desvalorização hoje, supera, em grande, todas as expectativas possíveis de compreensão...
Reflictamos e ponderemos… Desta feita, o País agradece… e nós merecemos!


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