quinta-feira, 22 de setembro de 2016

AGENTES POLICIAIS EXPULSOS: DISCIPLINA OU MERO SHOW OFF...

A notícia é interessante, ela abre um grande debate no contexto actual a que vivemos. Entre o certo e o errado coloca-se em disputa a concretização de actos pelos quais não estamos habituados. E o (dis)sabor  é ainda  maior pois, tal noticia aparece não sei se por simbolismo ou mera coincidência, no 17 de Setembro, que nada é mais se não, o dia do Herói Nacional. Data que tem como seu principal patrono, António Agostinho Neto, o “pai” da nossa independência e criador do célebre e emblemático slogan: “o mais importante é resolver o problema do povo”. Povo esse que já clama pela erradicação desse grande mal que afecta e destrói a nossa grande sociedade: a Corrupção.
Diz-se “que na disputa entre o Direito e Justiça... terá sempre que prevalecer a Justiça”. Já não era sem tempo! A necessidade do ponto de partida, a demonstração de que é possível se disciplinar, é possível se dar a percepção de que nós valemos mais do que isso, que nós somos muito mais do que a imagem de nepotismo, clientelismo, despesismos,  e todos outros conjuntos de rótulos com conotação extremamente pejorativa que caracterizam o nosso dia a dia. Só assim se fundamenta a posição de Angola nos últimos lugares (classificação163 de 167) dos Relatórios anuais que ordenam os países segundo o Índice de Percepção de Corrupção (IPC) e, nos permitem perceber o grau em que a corrupção é percebida na relação entre funcionários públicos e políticos.
A definição da “corrupção como abuso do poder confiado para fins privados” não é vazia. Ela resulta, acima de tudo, dos efeitos nefastos a que sociedades como a nossa sofrem por causa da vida devassa na irracionalização dos recursos públicos e no abuso de quem tem o poder sobre as mãos, para impor a ordem, sem qualquer consideração à Justiça Social.
 Na verdade, apegados à ideia de “safa-se quem puder”, a “gasosa”- que é assim que decidimos chamar a esse cancro – fez-se o apanágio de um modus vivendis em que até o mais simples gesto nobre de valorização da pessoa humana que é cuidar dos nossos mortos, conservados na casa mortuária antes de serem enterrados, não acontece de forma digna, se não tivermos o mínimo de dinheiro em mãos, fazendo passar a mensagem de que, todos mandam e determinam e ninguém faz cumprir.   
Num país onde o desemprego é crescente, olhados de forma isolada, os Agentes policiais expulsos por conduta indecorosa, parecem insignificantes no marasmo a que estamos submetidos, onde a corrupção, o roubo e os desvios comportamentais parecem se generalizar, no seio de uma certa classe petulante, sacrificando cada vez mais os interesses de uma maioria que tem que elevar cada dia que passa a sua taxa de esforço para obtenção do mínimo.
Uma das grandes exigências em torno do sistema de governação angolano resulta do apelo para um maior e mais racional aproveitamento das potencialidades disponíveis. E isso passa, em primeiro lugar, pelo cumprimento do papel do Estado enquanto agente fiscalizador. Os mecanismos de controlo devem funcionar em pleno e desempenhar efectivamente todas as suas funções orgânicas de fiscalização, controlo e efectivação de responsabilidade, através dos processos respectivos previstos, de prestação de contas, auditorias, inquéritos e acompanhamento da execução da Administração Pública.
Não é justo, e nem há explicação suficientemente aplausível, para não fazermos de Angola um espaço bom para se viver. O que obrigaria uma maior eficiência e melhor entendimento sobre os fundamentos de um Estado democrático de direito e da separação de poderes. A disciplina nada mais é que o poder de verificação das actividades dos órgãos e agentes administrativos; a verificação de que as actividades públicas cumprem com suas finalidades, reflecte o poder de corrigir condutas administrativas, seja porque eivadas de vícios de legalidade, seja em função de mudanças nas políticas públicas.
Assim sendo, e para que sirvam de exemplo, mais do que Show off será importante que o Estado angolano  restabeleça a confiança junto dos angolanos e dos potenciais investidores externos. Isso passa pela estabilidade governativa e, acima de tudo, pela estabilidade das politicas públicas e essencialmente económicas a serem elaboradas. Passa também pela maturidade dos executores titulares de cargos públicos, a fama de boa ou má gestão, as referências tecnocratas que comportam e toda uma capacidade de influenciar o Presidente da Republica a pensar e fazer diferente.
A demonstração clara da percepção do Estado de se querer potenciar as Instituições com actos de Disciplina e Fiscalização impõe a sensibilidade as práticas anti-transparência, o respeito pela propriedade privada, a valorização da iniciativa privada e a garantia da protecção da concorrência. Ao mesmo tempo, passar a mensagem ao mercado de que aos poucos e, a medida que o mercado vai se empoderando, o Estado vai fazer reformas claras e objectivas que por efeito multiplicador vão eliminar os focos de corrupção, má gestão e abuso de poder. E isso é muito mais do que meras Expulsão, Exonerações e Nomeações – principalmente quando as razões não são conhecidas e nem declaradas.
Para concluir, em primeiro lugar é importante accionar mecanismos de facilitação do cumprimento das obrigações, o cumprimento das obrigações deve ser estritamente necessário. Segundo, é importante o combate à impunidade dos prevaricadores, pois ela estimula o incumprimento e é sentida como iníqua pelos cidadãos cumpridores. Depois, a necessidade de se estabelecer um clima de confiança mútua entre o Estado e os cidadãos,  pois, o incentivo para cumprir é reduzido porque, não parece gerar a devida contrapartida – (a pratica demostra que países mais rigorosos na gestão dos bens públicos mais facilmente mobilizam a participação voluntária do cidadão). Por último, a importância de reforçar os laços entre o Estado e os organismos da sociedade civil, o combate aos focos de corrupção não pode ser uma tarefa exclusiva do estado porque é a sociedade no seu conjunto que por ela é prejudicada.
Agora, que venham os outros ministérios e repartições públicas a disciplinar funcionários incumpridores, que levam a vida a fazer dos seus postos de trabalho o centro das atenções e que desvirtuam, quase que sabotando, todo um conjunto de politicas direccionadas para uma construção social positiva! Que venha o Tribunal de Contas, a Inspenção Geral do Estado, a Assembleia Nacional e todas outras Instituições fazerem valer a Disciplina e com isso promoverem o país que todos nós sonhamos um dia... onde o mais importante será sempre “resolver os problemas do povo”. Tenho dito! 

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