segunda-feira, 24 de setembro de 2018

QUANDO O DECISOR É PERDULÁRIO, O MAL TORNA-SE OPORTUNISTA




Na passada segunda-feira o mundo acordou mais pobre, duzentos anos de história do Brasil e do Mundo foram literalmente queimados.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro, uma das mais antigas instituições de pesquisa científica, que albergava no seu dia a dia professores, alunos e pesquisadores, foi destruído por um incêndio de grandes proporções na noite de domingo, depois de fechado para o público, só por isso sem vítimas humanas.
Não fosse pela perda incomensurável, diríamos que incêndios, tal como acidentes e outros imprevistos acontecem. Pena é, quando acontecem, induzidos por incompetência humana ou, mais grave, pelo procrastinar de decisões que quando não tomadas geram consequências graves nos processos.
Reportagens televisivas, artigos jornalísticos e outras fontes de informação demonstram que o “Museu Nacional” ficou “sem recursos do Governo federal, os funcionários foram obrigados a fazer uma colecta na Internet para reabrir a sala principal e a instituição quase morreu de abandono por falta de manutenção”.
É aqui que começa a nossa insatisfação e manifestação de repúdio em relação á forma como a ordem de prioridades, na visão dos políticos decisores são definidas. Ou seja, na generalidade, quando os decisores são perdulários, o mal acaba sempre tirando partido, de forma oportuna.
Talvez seja característica das sociedades menos avançadas, mas é comum observar-se que por razões banais, muitas vezes eivadas de meros caprichos, decisões são adiadas, recursos não são disponibilizados e, com isso, externalidades negativas são geradas com consequências difíceis de serem controladas.
Por ausência de lideranças fortes, sagazes e capazes de construir empatia com os processos de governação, perdem-se patrimónios e adiam-se decisões que não só podem comprometer o desenvolvimento, como também perpetuam erros.
Para que o Estado seja eficiente e atenda as necessidades da sociedade com mais transparência, “accountability”, equidade e responsabilidade na sua gestão, é fundamental fortalecer os seus mecanismos de governanção pública.
A capacidade de tomar-se decisões e a pertinência de como são feitas as escolhas envolventes, determinam, no ecossistema e governação contemporânea, a eficiência governativa.
No Museu Nacional, o fogo começou por volta de 19h30 de Domingo, não havia água para os bombeiros, a estrutura não tinha sistema de protecção contra incêndios e, por isso, calculam-se perto de 20 milhões de itens do acervo foram perdidos. Isto é, sem possibilidade de recuperação.
Tal como no Museu Nacional, nós vivemos vários “incêndios” por aqui. Grande parte do património público está a deteriorar-se, e outro, a servir interesses individuais. Os recursos disponíveis para servir interesses colectivos, sem parcimónia, são mal administrados.
Hoje, por causa de falta de manutenção, atrasos na contratação pública e incoerências nas despesas públicas, ravinas, chuvas, lixo e outros males põem em causa a sobrevivência de muitos edifícios públicos, muitos deles património nacional.
Muito recentemente vivemos uma crise de malária e febre amarela que levou à morte de uma grande franja da população, tudo por falta de capacidade na gestão do lixo e na definição de prioridades na compra de medicamentos;
Outro destaque foi a greve de professores que deixou discentes sem aulas por mais de uma semana tudo por incumprimentos e falta de atenção, aliada a incapacidade de negociação.
Vários avisos da comunidade internacional, da sociedade civil organizada e dos cidadãos em geral, sobre elevados desvios do erário público foram feitos. O tardar em acautelar-se tais recomendações levou o país ao marasmo económico e social em que vivemos hoje.
Como estes exemplos existem vários em que, a ausência de prestação de contas, de cumprimento de agendas ou mesmo de responsabilização origina a soma de prejuízos sem precedentes.
A função da Administração Pública é gerir os recursos públicos de forma eficiente, tendo por meta alcançar os interesses da sociedade. No entanto, interesses particulares dos gestores públicos, podem influenciar na sua tomada de decisão e distanciá-los das prioridades colectivas.
A ausência de agendas de tarefas, com prazos e responsabilidades bem definidas, faz dos planos e programas elaborados pouco executáveis. A ineficiência governativa perpetua erros, gera o contínuo desperdício de recursos e produz resultados negativos ou contra-producentes.
A verdade é uma, tal como no cenário do Museu Nacional, aqui também a “culpa quase sempre morre solteira” e logo a seguir vem o político anunciar reformas, engalanadas de discursos esteticamente muito bem conseguidos, mas que no fundo, para além da lavagem cerebral, não dizem absolutamente nada.
A nossa realidade é efémera, riscos e custos sem benefícios fazem parte do dia a dia. Dinheiros alocados para projectos não prioritários, revelam estatísticas oficiais completamente desfasadas da realidade objectiva, as prioridades dos políticos infelizmente andam em contra-mão das necessidades do país real.
Nestes termos, no âmbito da nova roupagem governativa que se pretende, para que se evitem prejuízos graves, urge  a necessidade de estimular-se a criação de modelos de tomada de decisão que minimizam a burocracia, estimulam a prestação de contas com responsabilização e a transparência, como pilares básicos da busca pela eficiência governativa.
Não basta olhar para os problemas e esperar que “a solução caia do céu”, ou que o “incêndio” surja para eliminar de vez com as preocupações. É preciso desenhar-se uma Administração Pública ideal para as nossas necessidades, que inclua na sua essência, um modelo de tomada de decisão baseado no princípio de máxima eficiência.
Adiar reformas, protelar decisões, evitar ajustamentos na administração pública através da redução de custos e consequente aumento da produtividade, é adiar progresso. É permitir que no curto prazo o país se “incendeie” do aumento da pobreza e da incapacidade de sobrevivência dos povos.

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