Numa reflexão em
solilóquio, depois de ter apreciado um flash da rúbrica “há valores” na TV, decidi,
por conta e risco, tentar perceber em que momento se deu a falha para que
fôssemos todos remetidos ao ponto em que chegamos como sociedade.
Quase que num
descaminho total, onde a manipulação, a burla, a desonestidade e todos outros extravios
sociais se tornaram regra. Tornou se muito fácil encontrar um “cara de pau”,
totalmente sem escrúpulos e, em contrapartida, cada vez mais difícil encontrar gente
honesta, disposta a preservar o pudor.
A situação é bastante
complexa e envolve, desde o político corrupto, ao médico que não cura, do professor
que não ensina, ao pai que prefere a sopa da rua do que prestar alimento aos
seus filhos, enfim, do jovem com força e vigor que prefere uma vida fácil ao
velho sem moral para exigir do jovem e incentivá-lo para o trabalho.
Várias foram as vezes
em que fomos convidados por um funcionário de um estabelecimento comercial a
não cumprir as regras estabelecidas para que comprássemos determinado bem ou
serviço mais barato das suas mãos, em claro prejuízo aos seus patrões, sem o
menor receio de perder o emprego por falência do negócio.
Outras vezes somos
remetidos a processos simples e de cumprimento obrigatório, mas que por vaidade
do agente público somos obrigados a violar a procedimentos sob pena de
atrasarmos a vida e comprometermos a continuidade de nossas ambições.
Se foi por decreto ou
não, a verdade é que chegamos a um ponto em que nos questionamos mais uma vez:
“Que país é esse que remete o seu povo a tamanha encruzilhada em que o caminho
para o “desespero” é mais acessível do que o caminho da “esperança”?
Independente da
profundidade da análise que se pode fazer ou da lógica que usamos para
justificar às razões desta complexidade, é quase unânime que em algum momento a
sociedade falhou, tendo permitido que de forma subtil nos deixássemos encantar
com tamanha devassidão.
Hoje por hoje, as
consequências estão aí, nos olhos de quem se presta a observar. A corrupção
tomou conta das nossas vidas e o conhecimento, o mérito e todo um conjunto de
atitudes positivas que realçam o bem-fazer e a justiça do ser, foram
substituídos pela bajulação, pela falsidade, pela deslealdade e por todos outros
comportamentos desviantes.
Intrigas nos locais
de serviço, mediocridade no seio das chefias, banalização da educação social, aproveitamento
da sensibilidade de quem sofre, má educação no trânsito e total arrogância de
quem tem o poder de decidir, fazem o nosso dia-a-dia.
No processo de formação
da minha personalidade, fui educado a pensar que o sucesso estaria condicionado
ao maior nível de absorção do conhecimento e ao aprimoramento das minhas
habilidades.
“Disseram-me que
seria suficiente o conhecimento e a capacidade de discernimento; garantiram-me
que se eu fosse honesto e um homem de princípios, eu seria muito mais feliz; deram-me
a certeza de que as conquistas dos prémios, por mérito próprio, estariam
condicionadas à honestidade, ao compromisso com a ética e ao cumprimento rigoroso
do dever.”
Infelizmente o
caminho para desgraça tem sido muito mais curto do que o caminho para o sucesso,
o que me leva a perguntar: Será que fui enganado? E se eu processasse o meu País???
De certeza que não. Não
fui enganado. O sistema é que precisa ser reiniciado com urgência!
O recomeço se faz
urgente. Não sei se pela massificação da educação ou por um outro conjunto de
acções de coerção e punição do erro.
Sei apenas que temos
que começar!
Há responsabilidades
políticas sobre o assunto. Há necessidades de quem realiza/exerce o poder, de
dar exemplos de probidade pública e de boas práticas que visam uma maior
satisfação das necessidades colectivas. Não deixa de ser também importante que
a sociedade, no geral, se auto-desafie a mudar.
O actual Executivo
Angolano deverá ser chamado a promover e estimular está nova forma de pensar e
agir. Um primeiro passo, passa pela valorização da educação, como condição
essencial para se levar a bom termo, o processo de mudança de consciência, rumo
à reconstrução do País/Nação.
Isto implica um
rápido aumento do acesso à educação de qualidade para as crianças, jovens e
adultos como uma das condições necessárias para a promoção da paz e da
cidadania, por um lado e, por outro, como uma das bases estratégicas para a
erradicação da pobreza e o desenvolvimento do país.
A República de Angola
precisa, sem demora, de se reconstruir sob novos prismas que garantam a Paz e o
desenvolvimento humano sustentável. A educação é, portanto, a chave para o
desenvolvimento sustentável e equitativo da sociedade.
Criemos então, na nossa
sociedade, um bom ambiente para se viver, cuja concretização passa pela determinação
prévia de objectivos concretos, passíveis de serem mensurados e que sejam
susceptíveis de estimular e realizar os anseios do indivíduo, que por muito
tempo ficou remetido a um estágio rotineiro de pouca criatividade e consequente
insatisfação.
Portanto, fica claro
que a responsabilidade é do Poder Executivo que tem de criar as condições
necessárias para que o acesso à educação de qualidade seja um facto mas é também
de cada indivíduo, já que na actualidade, o cidadão deve estar predisposto à
mudança e, acima de tudo, buscar atitudes inovadoras para melhor realização dos
seus objectivos de vida.
Construamos pois um
país novo…, a sociedade agradece!
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