Um dos vários
problemas característico da actual Administração Pública em Angola é, a falta
de cuidado na definição de prioridades que concorrem para a realização do interesse
da grande maioria dos cidadãos desse país.
Alguns atribuem a culpa
à falta de hábito em governar com povo e para o povo, o que pressupõe uma participação
directa ou indirecta dos cidadãos nos processos de decisão, como por exemplo
através dos Conselhos de Auscultação, ou mesmo accionando mecanismos modernos
de captação da opinião pública para efectivação das políticas públicas;
Outros preferem
acreditar que tudo se resume num exagero do modelo de governação centralizado
que foi adoptado depois do alcance da independência, o que criou “grandes
amarras”, das quais, a actual governação não se consegue desenvencilhar,
notando-se, desta forma, uma relação entre governantes e governados cada vez
mais distanciada.
Com isso, os erros multiplicam-se,
os conflitos de interesse agudizam-se e o sofrimento das famílias aprofunda-se,
num claro desespero entre o que se faz ou se realiza e o que se espera, para
satisfação das necessidades imediatas dos cidadãos.
Ora, recentemente
fomos brindados com o “lançamento de mais uma pedra”. Não se trata de um
lançamento qualquer, mas sim, de um acto que com alguma decepção, a exemplo da
noticia da inauguração do maior cemitério de África, com pompa e circunstância:
“Angola marca mais um passo para inscrever no livro de “Record Guiness”, com a
construção de uma das maiores Morgue Central na cidade de Luanda”.
Como se pode
observar, não foi o lançamento de pedra para o começo de um plano estruturado
de saneamento básico, que é, tão somente, o principal dilema para as sevícias que
as famílias de Luanda vivem. Nem tão pouco foi para o lançamento de um projecto
de acções socio-educativas para minimizar o custo de realização das políticas
públicas, ou mesmo, para potenciarmos o dever patriótico dos cidadãos desta
cidade e, com isso, eliminarmos uma série de “maus comportamentos” que
interferem em grande medida na gestão da cidade.
Que os Santos nos
acolham...!
Verdade, pessimismos
a parte, não só não é justo tirar de seu gabinete o Vice-Presidente da República
para tal acto, como também, o Governo desta cidade precisa compreender que as
actuais morgues apenas se fizeram pequenas, devido a uma série de factores
causais que se não corrigidos, a breve trecho, não mais haverá espaço para conservação
dos nossos ente-queridos.
Hoje por hoje, com
uma das maiores taxas de mortalidade, bastará ir para a porta dos diferentes Cemitério
desta cidade, a exemplo do Benfica, para percebermos pela quantidade de
funerais que pelo não combate dos principais vectores de mortalidade, um dia desses,
acabaremos sem espaços para realização dos nossos funerais.
Morre-se nas estradas,
morre-se pelo consumo de água não potável e de alimentos mal manuseados, morre-se
por doenças como a cólera, febre tifóide, febre amarela e tantas outras, consideradas
“doenças da sujidade”, passiveis de serem erradicadas com um bom plano de saúde
pública. Para não falar aqui do stresse causado por ausência de vias alternativas
que ajudariam em grande na diminuição de factores causadores de outras doenças
de fórum psicológico.
Por último e não
menos importante, estão identificadas insuficiências com os hospitais
especializados como o Sanatório de Luanda, o Hospital Neves Bendinha e a
Pediatria de Luanda. Todos esses locais, prestam um mau serviço ao cidadão por
falta de condições e acesso as garantias mínimas para realização dos primeiros
socorros.
Então, senhores governantes!
- Que prioridade
representa o investimento numa “casa mortuária”?
- Que prioridade
representa tal custo para benefício directo dos cidadãos desse país que tanto
apelam por uma vida melhor?
Para o cidadão a
angústia começa com a chegada das chuvas e essas, não nos poupam, não estando
sequer interessadas em saber se o trabalho de preparação prévia para à
enfrentar foi ou não realizado com eficiência. Com ela surgem as águas paradas,
as limitações dos acessos, as enfermidades e todos outros males que concorrem
para a diminuição da nossa esperança média de vida.
Precisamos parar com a ideia de que o combate dos nossos
problemas passa pela eliminação dos efeitos sem correcção das suas causas. Vã
será a construção de hospitais, morgues e cemitérios se as acções de controlo
da mortalidade não forem ponderadas.
Para Luanda, em
específico, são prioridades: o saneamento do meio, a iluminação pública, a
melhoria das diferentes vias de acesso, o tratamento dos resíduos sólidos e um
processo de educação compulsiva que remete o cidadão às boas práticas de
convivência social e urbana, para com isso se diminuir a multiplicação dos
vectores da morte e, consequentemente, a necessidade de “monstruosas casa
mortuária”.
Definitivamente, não
é uma prioridade a Morgue Central pouco menos a manifestação de desejo da sua
construção é uma notícia que nos orgulha. Antes porém, batalhemos para o
alcance de políticas públicas que cada vez mais realizam o cidadão por via da
melhoria do seu rendimento, dos níveis de escolarização e da sua esperança de
vida.
Sejamos mais
optimista e partamos com altruísmo para acções mais positivas... Só assim as
famílias serão felizes e com isso o país caminhará para o desenvolvimento
equilibrado.
O país merece e nós
agradecemos!
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