Quando revisito a
minha infância e relembro o meu passado, particularmente dos professores que
intervieram no ciclo de ensino e aprendizagem básico, apodera-se de mim o sentimento
nostálgico trazido pela lembrança de um fim que, com rara excepções, acabava
por abraçar uma grande maioria dos
homens do giz de então: o alcoolismo.
Antigos professores,
pessoas com elevada capacidade pedagógica de exposição do pensamento, que vinham
para sala de aulas, sem qualquer material de apoio, ensinar química, biologia
ou mesmo matemática com uma clareza de arrepiar... causando sempre admiração,
pela forma sistematizada como apresentavam os conteúdos.
Tal como eles, num
olhar atento ao nosso passado e presente, identificamos com muita facilidade o
quanto diferentes cidadão deste país, nas distintas profissões e actividades, dedicam-se
na constante busca pelo melhor conhecimento e habilidades, na esperança de
contribuírem pra a construção do “sonho Angola... um país bom para se viver”, veem
todo o seu entusiasmo esfumar-se na
contradição entre o seu saber e a incapacidade de influenciar a vida para o
melhor.
Os desabafos surgem e
com alguma frequência ouvimos: ... cansei! Outros, num soar de desespero
rebatem: “que utilidade tem o conhecimento se para nada valem”, ou ainda, “seria
melhor que não estudasse; seria melhor ser analfabeto... porque assim entenderia
menos o que se passa”.
E aí nos perguntamos:
que País é esse?
Que país é esse que remete
o seu povo a tamanha encruzilhada em que o caminho para o “desespero” é mais
facilmente acessível do que o caminho da “esperança”?
Que país é esse que
consegue matar sonhos e aspirações de gente ao exemplo dos meus grandes
professores, que mais do que uma aspiração materialista, sonharam sempre com a
realização de um “ambiente bom para se viver”?
A preocupação é maior quando olhamos
para frente e os “ecos que nos soam” não anunciam a possibilidade de uma
mutação concreta dos paradigmas actuais, onde nos deparamos com a falta de
vergonha em enaltecer o errado em detrimento do certo e quando nos envaidecemos
pela devassidão das nossas atitude carregadas de uma intelectualidade inócua.
Quando saímos pela rua e vemos nos
olhos do nosso próximo o “grito de socorro”, o “grito do anseio pelo que é
certo”, buscamos compreender o que realmente se passa com a nossa condição humana,
em particular com o nosso poder político e económico, que se propôs claramente
na busca do melhor e mais fiel modelo estratégico de “acumulação selvagem de
capital”, infectado por
tamanha insensibilidade, coberta de elevadas jactâncias que submete a sociedade
a grotesca pobreza?!
Como já um dia
questionamos aqui, no nosso “planadocentrismo”... como será possível perceber
que numa era de grandes avanços tecnológicos, onde as sociedades mais avançadas
já navegam por outras paragens do universo em busca de outros saberes, nós
temos dificuldades de encontrar soluções simples e sustentáveis para os problemas
sociais, económicos e até mesmo político com que nos deparamos no dia a dia;
Ou seja, enquanto anunciamos as nossas vaidades e nos
preocupamos com o melhor carro, o melhor relógio, a melhor atitude materialista
(vivida acima das nossas reais capacidades), a maioria das famílias que fazem
essa Angola, sofrem com a falta de energia e o acesso a água potável, com as águas
paradas, bairros cheios de mosquitos e sem o mínimo para sobreviver.
Os jovens com mente desocupada e pré-dispostos aos
males da vida estão expostos ao aumento dos níveis de consumo de droga, de
prostituição, de criminalidade e outros males típicos de sociedades com má
gestão e consequente subdesenvolvimento.
O que é pior, os nossos egos não nos permitem observar
tal situação.
Não pode ser! O poder político não
pode continuar preso na ganância e apetência exacerbada pelo materialismo, traindo
a intelectualidade e a consciencialização do cidadão e destruindo o sentido de
nação e desenvolvimento.
Quando chegam as chuvas, nossas desgraças vêm por
arrasto. Muitos têm de percorrer grandes distâncias a pé para garantir
continuidade do seu humilde emprego, outros têm de acordar para tirar água de
dentro de casa por falta de um sistema de saneamento funcional... tudo isso e
outros males resultam da inconsistência no exercício das politicas públicas.
Meus senhores, os cidadãos na sua humildade sabem
julgar. Por mais inoportuno que pareça, fazem observações constantes sobre o
dia a dia da sua comunidade, percebem o seu sofrimento e prospectam diferentes
soluções.
Blindar as imperfeições e erros graves, é admitir a possibilidade do
pensamento mesquinho, de que o
sofrimento dos seus cidadão os dá prazer, o que abre chances para se
perpetuar o mal e em consequência disso o agudizar das tenções sociais.
Tem que haver capacidade de se enfrentar a realidade,
sair-se da zona de conforto e arriscar-se a progredir. O imediatismo, as
agendas de curto prazo, o populismo e a falta de acções práticas, são o
apanágio dos insucessos constantes.
A busca por soluções sustentáveis,
deve ser também o resultado, de uma mudança de paradigma. Precisamos construir
uma sociedade diferente onde o mérito tem de ser mais estimulado, onde a
arrogância tem de ser substituída pela humildade e o discernimento tem de
substituir a ignorância pura do perfeccionismo.
Arrisquemo-nos a progredir...
O País merece e Nós agradecemos!
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