segunda-feira, 24 de abril de 2017

QUANDO O SABER GERA O DESESPERO E A FRUSTRAÇÃO...

Quando revisito a minha infância e relembro o meu passado, particularmente dos professores que intervieram no ciclo de ensino e aprendizagem básico, apodera-se de mim o sentimento nostálgico trazido pela lembrança de um fim que, com rara excepções, acabava por abraçar uma grande  maioria dos homens do giz de então: o alcoolismo.
Antigos professores, pessoas com elevada capacidade pedagógica de exposição do pensamento, que vinham para sala de aulas, sem qualquer material de apoio, ensinar química, biologia ou mesmo matemática com uma clareza de arrepiar... causando sempre admiração, pela forma sistematizada como apresentavam os conteúdos.
Tal como eles, num olhar atento ao nosso passado e presente, identificamos com muita facilidade o quanto diferentes cidadão deste país, nas distintas profissões e actividades, dedicam-se na constante busca pelo melhor conhecimento e habilidades, na esperança de contribuírem pra a construção do “sonho Angola... um país bom para se viver”, veem todo o seu entusiasmo esfumar-se  na contradição entre o seu saber e a incapacidade de influenciar a vida para o melhor.
Os desabafos surgem e com alguma frequência ouvimos: ... cansei! Outros, num soar de desespero rebatem: “que utilidade tem o conhecimento se para nada valem”, ou ainda, “seria melhor que não estudasse; seria melhor ser analfabeto... porque assim entenderia menos o que se passa”.
E aí nos perguntamos: que País é esse?
Que país é esse que remete o seu povo a tamanha encruzilhada em que o caminho para o “desespero” é mais facilmente acessível do que o caminho da “esperança”?
Que país é esse que consegue matar sonhos e aspirações de gente ao exemplo dos meus grandes professores, que mais do que uma aspiração materialista, sonharam sempre com a realização de um “ambiente bom para se viver”?
A preocupação é maior quando olhamos para frente e os “ecos que nos soam” não anunciam a possibilidade de uma mutação concreta dos paradigmas actuais, onde nos deparamos com a falta de vergonha em enaltecer o errado em detrimento do certo e quando nos envaidecemos pela devassidão das nossas atitude carregadas de uma intelectualidade inócua.
Quando saímos pela rua e vemos nos olhos do nosso próximo o “grito de socorro”, o “grito do anseio pelo que é certo”, buscamos compreender o que realmente se passa com a nossa condição humana, em particular com o nosso poder político e económico, que se propôs claramente na busca do melhor e mais fiel modelo estratégico de “acumulação selvagem de capital”, infectado por tamanha insensibilidade, coberta de elevadas jactâncias que submete a sociedade a grotesca pobreza?!
Como já um dia questionamos aqui, no nosso “planadocentrismo”... como será possível perceber que numa era de grandes avanços tecnológicos, onde as sociedades mais avançadas já navegam por outras paragens do universo em busca de outros saberes, nós temos dificuldades de encontrar soluções simples e sustentáveis para os problemas sociais, económicos e até mesmo político com que nos deparamos no dia a dia;
Ou seja, enquanto anunciamos as nossas vaidades e nos preocupamos com o melhor carro, o melhor relógio, a melhor atitude materialista (vivida acima das nossas reais capacidades), a maioria das famílias que fazem essa Angola, sofrem com a falta de energia e o acesso a água potável, com as águas paradas, bairros cheios de mosquitos e sem o mínimo para sobreviver.
Os jovens com mente desocupada e pré-dispostos aos males da vida estão expostos ao aumento dos níveis de consumo de droga, de prostituição, de criminalidade e outros males típicos de sociedades com má gestão e consequente subdesenvolvimento.
O que é pior, os nossos egos não nos permitem observar tal situação.
Não pode ser! O poder político não pode continuar preso na ganância e apetência exacerbada pelo materialismo, traindo a intelectualidade e a consciencialização do cidadão e destruindo o sentido de nação e desenvolvimento.
Quando chegam as chuvas, nossas desgraças vêm por arrasto. Muitos têm de percorrer grandes distâncias a pé para garantir continuidade do seu humilde emprego, outros têm de acordar para tirar água de dentro de casa por falta de um sistema de saneamento funcional... tudo isso e outros males resultam da inconsistência no exercício das politicas públicas.
Meus senhores, os cidadãos na sua humildade sabem julgar. Por mais inoportuno que pareça, fazem observações constantes sobre o dia a dia da sua comunidade, percebem o seu sofrimento e prospectam diferentes soluções.
Blindar as imperfeições e erros graves, é admitir a possibilidade do pensamento mesquinho, de que o  sofrimento dos seus cidadão os dá prazer, o que abre chances para se perpetuar o mal e em consequência disso o agudizar das tenções sociais.
Tem que haver capacidade de se enfrentar a realidade, sair-se da zona de conforto e arriscar-se a progredir. O imediatismo, as agendas de curto prazo, o populismo e a falta de acções práticas, são o apanágio dos insucessos constantes.
A busca por soluções sustentáveis, deve ser também o resultado, de uma mudança de paradigma. Precisamos construir uma sociedade diferente onde o mérito tem de ser mais estimulado, onde a arrogância tem de ser substituída pela humildade e o discernimento tem de substituir a ignorância pura do perfeccionismo.

Arrisquemo-nos a progredir... O País merece e Nós agradecemos!

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