Vista a lupa, a forma
como se vai fazendo a gestão dos novos projectos habitacionais construídos pelo
Estado, para garantia da melhoria da condição de vida de algumas famílias, essencialmente
em Luanda, é uma autêntica demonstração de incompetências, falta de rigor na
gestão do património público e um completo
desrespeito ao cidadão e as normas no âmbito do planeamento e gestão urbana.
Quem vive ou passa
pelas diferentes centralidades habitacionais ou mesmo pelos diferentes projectos
habitacionais que resultam de fundos públicos, apesar de zonas habitacionais
novas, muitas delas com menos de 10 anos de vida, é submetido a grandes atropelos das regras de
convivência, da gestão de resíduos e na prestação de outros serviços essenciais
que concorrem para o funcionamento sustentável das grandes cidades.
Numa total disputa
entre a falta de autoridade e o excessivo abuso do poder, estes espaços
habitacionais transformaram-se num verdadeiro caos, onde cada um, a sua
maneira, faz o que quiser e bem entender. Enquanto isso, assiste-se a um uso
indevido do poder de quem tem autoridade, que se resume no reboque de viaturas
e aplicação de multas.
Na
verdade, nas “barbas das autoridades”, a história vai se repetindo e os espaços
vão sofrendo transformações descabidas, numa clara projecção a futuros subúrbios,
ou seja, muito próximo da confusão e da loucura.
E a
questão que se coloca é: caminhamos para esse ponto de não retorno por mera
incompetência, por vaidade, por insuficiência de recurso ou por mera acomodação?
Mas então meus
senhores o que se passa connosco? O que se passa com a nossa forma de pensar?
Por que é difícil partirmos para acções que interessam a colectividade? Até
quando viveremos ao sabor do vento?
Se para a parte
“velha” da cidade de Luanda, a justificação que tem sido dada para os problemas
com saneamento básico, com a descaracterização e desordem estrutural e com a
total falta de mobilidade urbana, prende-se com o facto de “ter sido construída
para apenas 500 mil habitantes”. Para as novas centralidades, tais desculpas
não se aplicam, justo porque elas foram construídas na base dos padrões modernos,
sendo que o que lhes falta, apenas, é uma gestão profissional, competente e
acima de tudo visionária que traduzam, por via da criatividade, a “inteligência
racional”, a ordem, a tranquilidade e a lucidez.
Por exemplo, não
podemos continuar a fazer gestão da Urbanização Nova Vida, como se de um bairro
antigo se tratasse, o mesmo dizemos de todos os “zangos dessa vida”. Não
funciona, não interessa e é totalmente descabido observar, que um cidadão, por
ter o cargo público que tem, pode destruir, cortar, sujar, poluir e até
descaracterizar os espaços públicos porque manda e ninguém pode demandar sobre
ele responsabilidades.
Tão enfadonha é a
forma como são indicados e/ou promovidos os gestores das centralidades e novas
cidades, numa clara violação de princípios que norteiam a boa gestão, o bom
senso e a ética na convivência.
A gestão das cidades devem
estar para além da participação político-partidária dos cidadãos e da
conveniência de determinados ciclos de interesse.
Engana-se quem pensa
que está a a fazer um favor partidário, quando nomeia um gestor incompetente
para um cargo que exige saber e inteligência suficiente para a sua
efectividade.
É ainda triste observar,
que o conjunto de atitudes medonhas passam ao de cima, sem qualquer atenção ou
responsabilização e, enquanto isso, o património público vai se desgastando
como se não interessasse a ninguém a garantia de bem estar social dos cidadãos.
Sempre acreditei, que
com o surgimento das novas cidades e centralidades, ensaios sobre um possível
modelo de gestão urbana seriam feitos, onde, as cidades se tornariam
autossustentáveis e podiam servir de protótipo para os primeiros passos para a
descentralização e possível realização das autarquias.
Mais uma vez sentimos
que estamos enganados e que de uma ilusão se trata, quando acreditamos que seriamos
surpreendidos.
A necessidade do
progresso, de ideias novas, de novos modelos que inspiram o crescimento, exige
a adaptação e experiência do velho mas também, impõe que se retirem os maus
hábitos que podem pôr em causa a ordem.
É preciso acabar com
a desordem dos “zangos da vida”, é preciso acabar com a ideia de que “vale
tudo” quando de condições para os cidadãos mais pobres se trata. Não pudemos
continuar a alimentar as heresias de que se transformou a gestão das centralidade
habitacionais, onde, apesar de modernas, o cidadão tem os mesmo problemas que o
indivíduo que vive nos bairros periféricos de Luanda.
Partamos para um sistema de
governação mais hegemónico na tentativa da promoção do padrão de
desenvolvimento urbano. Não bastará as requalificações e nem um pouco a
construção de mais centralidades que pautem, simplesmente, por padrões
convencionais de planeamento e modernização dos espaços urbanos. É preciso sim,
que se prime por uma gestão criteriosa e responsável, que vele acima de tudo,
pelo interesse público.
Por tanto, assume-se urgente, aguçar
a nossa sensibilidade e transformar numa espécie de modernização combinada, as
valências humanas, o espírito jovem da grande maioria da população e a riqueza
ambiental que se nos oferece e fazermos das cidades, tal como fazem as outras sociedades, “protagonistas essenciais do
desenvolvimento”.
O País merece e nós agradecemos!
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