segunda-feira, 17 de abril de 2017

GESTÃO DAS CENTRALIDADES... “A HERESIA ENFADONHA”

Vista a lupa, a forma como se vai fazendo a gestão dos novos projectos habitacionais construídos pelo Estado, para garantia da melhoria da condição de vida de algumas famílias, essencialmente em Luanda, é uma autêntica demonstração de incompetências, falta de rigor na gestão do património público e um completo  desrespeito ao cidadão e as normas no âmbito do planeamento e gestão urbana.
Quem vive ou passa pelas diferentes centralidades habitacionais ou mesmo pelos diferentes projectos habitacionais que resultam de fundos públicos, apesar de zonas habitacionais novas, muitas delas com menos de 10 anos de vida,  é submetido a grandes atropelos das regras de convivência, da gestão de resíduos e na prestação de outros serviços essenciais que concorrem para o funcionamento sustentável das grandes cidades.
Numa total disputa entre a falta de autoridade e o excessivo abuso do poder, estes espaços habitacionais transformaram-se num verdadeiro caos, onde cada um, a sua maneira, faz o que quiser e bem entender. Enquanto isso, assiste-se a um uso indevido do poder de quem tem autoridade, que se resume no reboque de viaturas e aplicação de multas.
Na verdade, nas “barbas das autoridades”, a história vai se repetindo e os espaços vão sofrendo transformações descabidas, numa clara projecção a futuros subúrbios, ou seja, muito próximo da confusão e da loucura.
E a questão que se coloca é: caminhamos para esse ponto de não retorno por mera incompetência, por vaidade, por insuficiência de recurso ou por mera acomodação?
Mas então meus senhores o que se passa connosco? O que se passa com a nossa forma de pensar? Por que é difícil partirmos para acções que interessam a colectividade? Até quando viveremos ao sabor do vento?
Se para a parte “velha” da cidade de Luanda, a justificação que tem sido dada para os problemas com saneamento básico, com a descaracterização e desordem estrutural e com a total falta de mobilidade urbana, prende-se com o facto de “ter sido construída para apenas 500 mil habitantes”. Para as novas centralidades, tais desculpas não se aplicam, justo porque elas foram construídas na base dos padrões modernos, sendo que o que lhes falta, apenas, é uma gestão profissional, competente e acima de tudo visionária que traduzam, por via da criatividade, a “inteligência racional”, a ordem, a tranquilidade e a lucidez.
Por exemplo, não podemos continuar a fazer gestão da Urbanização Nova Vida, como se de um bairro antigo se tratasse, o mesmo dizemos de todos os “zangos dessa vida”. Não funciona, não interessa e é totalmente descabido observar, que um cidadão, por ter o cargo público que tem, pode destruir, cortar, sujar, poluir e até descaracterizar os espaços públicos porque manda e ninguém pode demandar sobre ele responsabilidades.
Tão enfadonha é a forma como são indicados e/ou promovidos os gestores das centralidades e novas cidades, numa clara violação de princípios que norteiam a boa gestão, o bom senso e a ética na convivência.
A gestão das cidades devem estar para além da participação político-partidária dos cidadãos e da conveniência de determinados ciclos de interesse.
Engana-se quem pensa que está a a fazer um favor partidário, quando nomeia um gestor incompetente para um cargo que exige saber e inteligência suficiente para a sua efectividade.
É ainda triste observar, que o conjunto de atitudes medonhas passam ao de cima, sem qualquer atenção ou responsabilização e, enquanto isso, o património público vai se desgastando como se não interessasse a ninguém a garantia de bem estar social dos cidadãos.
Sempre acreditei, que com o surgimento das novas cidades e centralidades, ensaios sobre um possível modelo de gestão urbana seriam feitos, onde, as cidades se tornariam autossustentáveis e podiam servir de protótipo para os primeiros passos para a descentralização e possível realização das autarquias.
Mais uma vez sentimos que estamos enganados e que de uma ilusão se trata, quando acreditamos que seriamos surpreendidos.
A necessidade do progresso, de ideias novas, de novos modelos que inspiram o crescimento, exige a adaptação e experiência do velho mas também, impõe que se retirem os maus hábitos que podem pôr em causa a ordem.
É preciso acabar com a desordem dos “zangos da vida”, é preciso acabar com a ideia de que “vale tudo” quando de condições para os cidadãos mais pobres se trata. Não pudemos continuar a alimentar as heresias de que se transformou a gestão das centralidade habitacionais, onde, apesar de modernas, o cidadão tem os mesmo problemas que o indivíduo que vive nos bairros periféricos de Luanda.
Partamos para um sistema de governação mais hegemónico na tentativa da promoção do padrão de desenvolvimento urbano. Não bastará as requalificações e nem um pouco a construção de mais centralidades que pautem, simplesmente, por padrões convencionais de planeamento e modernização dos espaços urbanos. É preciso sim, que se prime por uma gestão criteriosa e responsável, que vele acima de tudo, pelo interesse público.
Por tanto, assume-se urgente, aguçar a nossa sensibilidade e transformar numa espécie de modernização combinada, as valências humanas, o espírito jovem da grande maioria da população e a riqueza ambiental que se nos oferece e fazermos das cidades, tal como fazem as outras sociedades, “protagonistas essenciais do desenvolvimento”.
O País merece e nós agradecemos!

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