segunda-feira, 10 de abril de 2017

DO CAOS A COERÊNCIA...

Esta semana fomos brindados com uma notícia, que mais tarde foi considerada falsa, que é de “bradar aos céus”. O custo de construção do quartel general da EPAL, que numa primeira fase foi  divulgado como tendo custado 700 milhões de dólares, “afinal custou apenas 7 milhões de dólares”, pelo menos segundo informações tornadas públicas pelos seus gestores que fizeram tal revelação em alto e bom tom, como que “Arquimedes exclamava Eureka ao desvendar fenómenos matemáticos”.
Não seria tão grave, se a pouco menos de um mês, na  comemoração do dia Mundial da água (22 de março), não tivéssemos sido presenteados por uma daquelas estatísticas negativas em que, segundo um relatório publicado pela organização Water Aid, “Angola, a quinta maior economia de África, é o país em que há menos acesso a água limpa, ou seja, para 71,8% da população angolana, a água potável é um luxo fora do seu alcance”.
A questão que se impõe é: qual a utilidade politica, económica e social de se gastar 7 milhões de dólares, em tempos de restrição orçamental, para a construção de um edifício sede, que no nosso entender, salvo opinião contrária, não agrega valor efectivo a administração técnica de distribuição de água ao cidadão?
Não existem, pelo menos no leque de palavras que traduzem o melhor de todas as necessidades de equilibro na gestão parcimoniosa, expressões adequadas para justificar tamanho contrassenso, quando analisado o país como um todo: suas insuficiências e suas limitações no atendimento das reais necessidades da população.
As necessidades que se prendem com a grave carência de água potável, com a melhoria urgente do saneamento básico e com o combate à todas as doenças que deles decorrem, não só não se compadecem com a construção de mais um edifício ultra moderno, como também exigem uma maior acutilância para que as metas dos objectivos de desenvolvimento sustentável sejam alcançados.
Muitas vezes, ouvimos gestores públicos a reclamarem sobre a ausência de recursos para satisfação eficiente das necessidades dos seus sectores. Por exemplo, muitos são os bairros em que o processo de ligações para a distribuição da água potável está interrompido por falta de recursos financeiros e nós, por mera vaidade, estamos a gastar 7 milhões de dólares para a construção de um conjunto de escritórios.
Sabemos que o Governo angolano tem grandes desafios com a melhoria dos diferentes indicadores que põem em risco a saúde dos angolanos e os submetem a constante procura da assistência médica e medicamentosa, um custo que pode muito bem ser evitado se os mecanismos de higiene e saneamento fossem mais consistentes. Aliado a isso, está a limitação de recursos que se impõe, em face da baixa reação do mercado externo ao nosso principal activo económico.
Deste modo,  a atribuição e caracterização desta despesa como sendo “supérflua”, não é vazia. Ela resulta, acima de tudo, dos efeitos nefastos que sociedades como a nossa sofrem, por causa da vida devassa na irracionalização dos recursos públicos e na inércia de quem tem o poder sobre as mãos, para impor a ordem, colocando-se em causa a Justiça Social.
Está mais do que provado que a melhoria da qualidade da despesa pública, principalmente em ano eleitoral, impõe muito cuidado com os desequilíbrios que podem resultar de decisões com cargas politicas muito populistas.
Uma melhor e efectiva distribuição dos recursos existentes se exige, principalmente para salvaguarda da dignidade da pessoa humana. Não pudemos gastar os humildes impostos dos cidadão para criar conforto para alguns, quando os resultados imediatos das suas funções são precários.
Até porque, nós sabemos que uma boa parte dos edifícios públicos caros e luxuosos começam e terminam ali mesmo, ou seja, os resultados práticos do exercício da actividade pública se esmeram no luxo dos seus administradores e o caos imposto no seio dos cidadão vai se perpetuando.
A gestão das politicas públicas exige inteligência oportuna e frieza nos compromissos permanentes da satisfação das necessidades dos cidadãos. E a gestão da água, tal como dizem os princípios do desenvolvimento sustentável, “impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua protecção e as necessidades de ordem económica, sanitária e social”
Aquilo que pedimos aos Órgãos da Administração Central e Local do Estado, incluindo os Gestores de Empresas Públicas, é a observância rigorosa dos critérios de gestão parcimoniosa em vigor, para que sejam asseguradas, cada vez mais, a racional aplicação dos recursos públicos disponíveis, de forma a permitir uma maior e melhor satisfação das necessidades do cidadão.

O País agradece e nós merecemos!

Sem comentários:

Enviar um comentário

  PAIDEIA: DO CAOS À SIMPLIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO A justificação veio dos principais gestores de alguns bancos da nossa praça, segundo ...