Cada um de nós, neste
país, já se sentiu brutalmente prejudicado com o mau atendimento quer para
acesso aos serviços públicos, quer para acesso a serviços privados. Em Luanda,
a coisa é extremamente pior. É daquelas coisas em que somos remetidos para um
estágio de completa ansiedade.
Grande filas, muito
tempo perdido, arrogância de quem tem o dever de servir, ausência de respostas
imediatas, mesmo para aqueles assuntos que por lei ou regra podem ser
satisfeitos na hora, os procedimentos são sempre os mesmos.
Decidir tratar um
documento, fazer um pagamento ou solicitar um serviço, é sempre um “Deus nos
acuda”. Um nervosismo puro, com sofrimento a mistura por antecipação, que
resulta do calculo da taxa de esforço
para obtenção do mínimo.
Os exemplos são vários:
na grande maioria dos postos de atendimento público (BI, Passaporte e outros
serviços administrativos), nos bancos, nas operadoras de TV, telefonia ou mesmo
para um simples atendimento numa loja prestadora de algum serviço, a situação se
repete.
No normal, num local
com mais de 3 computadores de atendimento, está sempre uma pessoa a atender.
Grandes filas se formam e a resposta habitual: é hora de troca de turno, os
colegas estão a comer, o colega não veio, ou outras desculpas quase sempre
supérfluas.
E o utente/cliente,
desse quase que ninguém se lembra. Quase que ninguém está preocupado com as
suas necessidades, se elas são urgentes ou não, ele que se “vire nos trinta”,
“ele que vá para outra freguesia... Pois, o país está mal e por isso não se
pode fazer exigências e ponto final...”
Entre as perdas
ligadas aos custos de se ter acesso à serviços, destaca-se, por exemplo, o
“custo de se ir ao banco”, muito bem estudado pelos economistas. Tal custo,
incorpora o esforço de se ter acesso a qualquer serviço bancário, o que faz com
que a taxa de bancarização se mantenha sempre baixa, tendo como implicações o
desenvolvimento de outros sectores da economia.
As consequências vão
se somando, desde o tempo perdido, a pouca motivação para a busca de soluções
formais e com isso vem, a micro corrupção, as burlas, o trafico de influência e
todos outros males que deles podem resultar sem dó nem piedade.
O agravante se dá
quando, o reflexo da falta de preocupação de quem decide ou faz gestão, se transparece na ausência de um simples
pedido de desculpa ou mesmo na activação de mecanismos de controlo para a
redefinição de estratégias de melhoria dos serviços.
Ao se solicitar algum
serviço, mais se sente que alguém nos está a fazer favor do que a vontade em
querer cumprir, antes de tudo, com o seu dever de servir. Sendo que o lucro
extraordinário está sempre em primeiro lugar.
Quando tentamos
compreender tal fenómeno, percebemos facilmente que o erro está na forma como
os serviços são formatados, a gestão corporativa é definida e os erros são
estimulados com ausência de contrapartidas punitivas.
Muitas instituições,
fazendo mal, prejudicando os seus principais clientes ou mesmo colocando a sua
condição em risco, deixam de se preocupar por garantias extra mercadologicas
que premeiam a incompetência, a má gestão e a ausência total de inovação e
competitividade.
A preocupação não
seria mais grave, se a burocracia, a corrupção e todos os outros elementos
negativos estreitamente ligados ao mau atendimento público, não fossem
considerados como sendo os principais entraves para a dinamização económica e
social do país e, os principais indicadores de classificação para a
precariedade do ambiente de negócios.
Qualquer estudo que
aborda o “Ambiente de Negócio” no mercado em Angola, referencia que o mau
atendimento público com toda as suas consequências nefastas, submete e
compromete as dinâmicas de mercado dos empresários, investidores e gestores,
beliscando fortemente os níveis de competitividade empresarial em Angola.
Numa altura de
mudança política, repensar Angola, nos seus mais variados aspectos, pressupõe a
atenção ao desafio da criação de infra-estruturas, mas também, ao exercício da
desburocratização dos processos, a aposta na formação e capacitação dos
recursos humanos, bem como, no fomento empresarial formatado na base da
prestação do serviço de qualidade.
Quer para os serviços
públicos, quer para as dinâmicas empresarias privadas, os empregos por
simpatia, o clientelismos, e a contratação de trabalhadores sem qualificação
profissional ou por mera simpatia, sempre comprometeram o alcance dos
objectivos previamente definidos.
Perder mais de duas
horas numa fila para pagar um serviço ou comprar um bem, ter que depender de
actos de corrupção para a realização e satisfação de uma necessidade por
inerência do trafico de influencia, não pode deixar descansados qualquer gestor
que se preze.
Precisamos reformular
a nossa forma de encarar o mercado. É Preciso que se quebre o mito de que o
país já não muda, de que isso é mesmo assim e que não precisamos mudar porque
sempre foi assim.
Para a nossa
realidade, a necessidade transcende a simples postura adequada, a rapidez, a
flexibilidade, cordialidade e, sobretudo, qualidade no trato com o público. A
qualidade do atendimento ao público apresenta-se como um desafio institucional.
Para tal, as reformas
institucionais e o cumprimento dos pressupostos das avaliações institucionais
iniciais, de acompanhamento e de impacto farão da administração pública mais
dinâmica e dos operadores do mercado mais livres e competentes.
As instituições e
empresas prestadoras de serviços, precisam entender que, ao oferecerem esta
opção, estarão a contribuir para um país melhor, para a garantia da
sustentabilidade dos seus negócios e para um melhor desempenho do papel social
pelo qual foram criados.
Desta feita, o País merece… e nós agradecemos!
Belo tema esse, que por vezes me assombra a existência (na verdade, quase diariamente), e que, junto à descoberta do seu blogue, não me surpreende. Guardei em “carteira” para comentário mais tarde :-)
ResponderEliminarObrigado... com prazer!
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