quarta-feira, 25 de abril de 2018

A CORRUPÇÃO E SEUS EFEITOS NA ECONOMIA


Nos dias que correm, com alguma frequência, somos surpreendidos com informações sobre casos de corrupção activa, peculato, tráfico de influência e outras denúncias escandalosas sobre desvios do erário público que resultam de acções promíscuas entre políticos e empresários.
Bastará olharmos, de forma superficial, para o fenómeno corrupção em Angola, para então percebermos a forte tendência de certos agentes públicos que não escondem a sua apetência para tirar proveitos indevidos das funções públicas que lhes são atribuídas, sem se importarem com os meios para o alcance dos seus intentos.
A nossa sociedade, esbarra-se hoje com uma série de escândalos envolvendo agentes públicos, que nos remetem à reflexão sobre: “qual seria a perspectiva (se é que há) da ética a que os nossos governantes estão votados.”
- Será que não importam os meios, apenas os fins e, com isso, o projecto Nação esvaia-se no somatório de longos anos de maus hábitos, no exacerbar de egos e na satisfação dos interesses particulares?
Ora, as sociedades que se pautam em valores têm as suas acções a concorrer para o interesse da colectividade para que os interesses individuais não obstem a sua realização, ou seja, criam uma verdadeira estratégia de prevenção e combate aos actos susceptíveis de desvirtuar o bem comum.
Assim, os recentes episódios e escândalos de corrupção e desvios do erário público envolvendo políticos, nutrem no cidadão uma espécie de indignação e confirmam o pensamento da obra de Max Weber, no livro “Ciência e política: duas vocações”:
“Se um sujeito se envolve com a política, ele não tem nada a perder, pois sua alma já estaria completamente perdida/vendida.”
O horizonte empírico ao qual se refere o Autor que citamos, no qual desenvolve suas indagações teórico-metodológicas, mostra que “os agentes procuram a política visando o ócio produtivo, vivendo assim às custas do Estado”.
Por outro lado, poderíamos também apelar o factor justiça, já que ao nosso ver, os actos de corrupção vão se impondo dada a “fragilidade e impotência” que o nosso poder judicial vai demonstrando.
Como tal, a impunidade e ausência de mecanismos de fiscalização e de espaços de prestação de contas, permitem que a corrupção corroa, cada vez mais, a nossa sociedade.
Sendo que a corrupção, na sua forma pura de ser pressupõe a propensão nefasta do agente público obter, de forma ilícita, vantagens de natureza essencialmente económica ou patrimonial no exercício da sua função, acaba sempre pondo em causa a economia nacional.
Diferentes estudos empíricos nos fazem perceber que existem diversas razões pelas quais a “Economia” e a “Corrupção” estão negativamente relacionadas:
Primeiro, por aumentar as despesas públicas, por via da inflação dos serviços públicos o que acaba por contribuir para a geração de déficits fiscais, com consequências negativas para o mercado;
Segundo porque, grande parte da literatura teórica, assim como evidências empíricas, parece sugerir que a corrupção dificulta severamente o desenvolvimento económico pois, tem suportado a existência de uma correlação linear e negativa entre o nível de corrupção e a taxa média de crescimento do PIB per capita.
Isto reduzirá o investimento privado e, também, o stock de inputs produtivos no longo prazo. Para além disso, a corrupção favorece uma classe particular de pessoas e gera desigualdade de oportunidades.
A existência de corrupção cria incertezas, eleva o custo do investimento, pode desestimular o investidor privado e acaba sempre por afectar, negativamente, o crescimento económico de um país;
Terceiro, porque estudos apontam que quase sempre que há sinais de corrupção no sistema tributário, maior será a fuga ao fisco, por ausência de correspondência entre a motivação para o pagamento do imposto e a eficiência governativa.
Significa que a corrupção demonstra que as instituições desenhadas para governar as relações de satisfação entre os cidadãos e o Estado estariam ao serviço de interesses individuais.  
Por outro lado, a corrupção tende a prejudicar a inovação e o surgimento de novos negócios pois, o estabelecimento de novos centros de produção implica a existência, por exemplo, de licenças e quotas de importação.  Como a procura destes bens é alta e inelástica, acabam tornando-se os alvos principais da corrupção.
Na verdade, é como diz o Banco Mundial: “A corrupção é o abuso do poder público para obter benefícios privados, presentes, principalmente, em actividades de monopólio estatal e poder discricionário por parte do Estado”.
Quarto, porque a corrupção é inimiga da concorrência e da eficiência governativa pois ela burocratiza os processos e permite que os agentes públicos tenham demasiado protagonismo, comprometendo o ambiente de negócio.
Por via da “corrupção burocrática”, o Estado torna-se numa “fonte de renda por excelência que decorre da venda de serviços públicos”, sendo que por existir, apenas, um único sector a prestar determinado tipo de serviço, criam-se poderes paralelos de monopólio.
Portanto, nessa visão, a existência de uma estrutura que combata a corrupção pode sim ser um passo para que a nossa economia alcance um bom ambiente de negócios que, por sua vez, estimule o investimento e aumente a capacidade produtiva da economia.
Para nossa realidade, os efeitos da corrupção são suficientemente visíveis e não deixam dúvidas dado o seu impacto na taxa de crescimento da renda per capita, nos investimentos públicos e na qualidade da infra-estrutura.
É preciso eliminar a excessiva regulamentação na actividade económica e gerar os estímulos necessários para a livre iniciativa e a sã concorrência.
É preciso despoletar mecanismos de controlo no exercício da contratação pública que minimizem a relação negativa entre a corrupção e investimento público.
Só assim conseguiremos eliminar as consequências da corrupção que geram o mau funcionamento do sistema económico e estão na origem do nosso fraco crescimento económico e do empobrecimento relativo da nossa sociedade.
Aperfeiçoemos com zelo e rigor as nossas práticas de fiscalização e prestação de contas… Porque o País é nosso e nós merecemos!

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