PAIDEIA: DO CAOS À
SIMPLIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO
A justificação veio dos principais gestores de alguns
bancos da nossa praça, segundo os próprios, há dificuldades na cedência de
créditos ao sector produtivo nacional por várias razões, sendo a que se
destaca: “a baixa qualidade dos projectos apresentados”.
Não fosse o séc. XXI, a representação clássica da
massificação do Conhecimento, do Progresso Tecnológico e de grandes descobertas
inovadoras, em volta da Inteligência Artificial, ficaríamos descansados.
A verdade é que, tal fundamentação… dita numa reflexão
de cariz internacional sobre “O papel da Banca no crédito à economia em tempo
de crise” e, publicada em destaque, nos principais meios de comunicação social,
expõe a presença de “Caos”.
Sem dramas, a interpretação mais básica deste
pressuposto remete-nos para uma de cariz cirúrgico, mas complexa sendo a
conclusão: é urgente fazermos do CONHECIMENTO, o ponto de partida para a nossa
reforma económica e social.
Quando a regra se torna na constante concepção de
projectos económicos mal fundamentados, com altos riscos, baixa rentabilidade e
com poucas probabilidades de exequibilidade, as Instituições de formação, as
incubadoras, os escritórios de consultoria e o próprio sector empresarial privado
recebem uma certificação negativa.
Portanto, as consequências estão aí. As linhas de
créditos disponibilizadas por instituições financeiras internacionais e
nacionais, para o mercado nacional, levam tempo para serem executadas e, com
isso, vamos somando prejuízos e atrasos nos diferentes programas de aceleração
da produção nacional.
Com as devidas adaptações a “Teoria do Caos”, que gera
atrasos nos processos de cedência de créditos compromete a capacidade da
economia nacional de tirar proveito dos prováveis 2 anos de moratória, inerente
ao pagamento da dívida pública, o que tornará o ambiente económico caótico e
impossível de ser gerido findo período de bonança.
Diferentes teorias apregoadas por filósofos,
matemáticos, cineastas e não só, remetem-nos para a reflexão de que a Teoria do
Caos está presente em tudo que nos cerca e é a base da imprevisibilidade de
vários problemas económicos e sociais dos países.
Quando o meteorologista americano Edward Lorenz
deduziu as equações do "efeito borboleta", no início da década de
1960, testou um programa de computador
que simulava o movimento de massas de ar, e pela redução de algumas casas
decimais, teve resultados inesperados, de grande impacto. Para Lorenz, era como
se “o bater das asas de uma borboleta no Brasil causasse, tempos depois, um
tornado no Texas”.
A falta de conhecimento generalizada, manifestada na
deficiente concentração de habilidades e competências técnicas e cognitivas à
disposição do mercado, como que “o bater das asas de uma borboleta”, encarecem os
projectos, atrasam os processos, impõe a importação de alta tecnologia
produtiva e comprometem o progresso do país.
Em plena era do conhecimento, em que a China está a
construir uma lua artificial, o mundo discute sobre a utilização ou não dos
Bitcoin (criptomoeda), sobre a realização da Rota da Seda, sobre inteligência
artificial e outros avanços tecnológicos, nós, infelizmente, discutimos sobre a
baixa qualidade dos projectos dos empresários.
Admitamos, na sua abrangência, o conhecimento
científico apenas começa a ser concebido quando a sociedade decide solucionar os
seus problemas e sair do Caos em direcção a simplificação dos processos, o que
implica a PAIDEIA, isto é, a avaliação dos resultados do processo educativo, na
vida dos indivíduos, das organizações e da sociedade.
A ampliação do conceito de Paideia, presente
em Sócrates, em Platão, em Aristóteles ou em Isócrates, não designa
unicamente uma técnica própria para, desde cedo, preparar a criança para a vida
adulta. A finalidade passa a ser a formação geral que dará a cada homem a
sua forma humana, a temperança ou seja, que o construirá como homem e cidadão
com perfeito domínio de si, aliando sabedoria e acção avisada.
Para o alcance de tal ideal, as Universidades e os
Institutos são chamados a serem agentes-chave no ecossistema do empreendedorismo.
Cabe a eles a Criação de startups, aceleradoras, espaços de co-working, grupos
de investidores-anjo, núcleos de pesquisa e todas as organizações ligadas ao
empreendedorismo.
Essa conexão gera efeitos positivos tanto para as Instituições
de Ensino Superior (IES), recebendo apoio, desenvolvendo os alunos e instigando
a inovação, quanto para o ecossistema, que se beneficia do conhecimento gerado
e da mão-de-obra qualificada.
O Conhecimento impõe-se como uma obrigação da qual a sociedade
não pode fugir. Para Platão, a saída do caos implica a existência de "...toda
a verdadeira educação ou Paideia, que enche o homem do desejo e da ânsia de se
tornar um cidadão perfeito, e o ensina a mandar e a obedecer, sobre o
fundamento da justiça " (PLATÃO, Leis, 643).
Vivemos um mar de incertezas. É uma sina com a qual
somos obrigados a conviver, dadas as nossas circunstâncias complexas e históricas.
Em todo o caso, o CONHECIMENTO está à nossa disposição. A teoria do Caos dá-nos
a capacidade crítica e permite-nos questionar algumas das nossas hipóteses
desafiando-nos para novas directrizes e para soluções dos nossos problemas.
É importante simplificar, a exemplo do que exige a
pandemia de Covid-19. Apesar da sua magnitude, pode ser controlada pelo simples
gesto de lavar as mãos e o uso de máscara. Pensar reformar a nossa economia com
subsistemas complexos, que ignoram os limites das percepções da massa crítica
existente, mais do que adiar resultados, aprofunda o caos.
A teoria do Caos ensina-nos a crer “que o certo não é
resistir às incertezas da vida, mas antes, é de aproveitar as possibilidades
que elas nos propiciam. Todavia, os sistemas caóticos e não-lineares – como a
natureza, a sociedade e a vida de cada indivíduo – transcendem qualquer
tentativa de previsão, manipulação e controlo”.
Sem criatividade, disciplina e resiliência, com
aproveitamento altruísta das experiências dos outros… passados 45 anos de
Independência, continuaremos a perpetuar erros.
O País é nosso… e nós agradecemos!